por Eduardo Alves
Os perigos da Ayahuasca!
Não quer mudar, não tomem esse chá!
É bom esclarecer os efeitos dessa Sagrada Medicina. Um
dos primeiros efeitos nocivos da Ayahuasca, é derrubar os véus e as cortinas
que nos impedem de enxergar tudo que nos cerca com nitidez, tudo vai se
tornando claro e é impossível não perceber que a Matrix realmente existe, que
somos manipulados e conduzidos a acreditar e fazer tudo conforme um padrão de
pensamentos e ações (e a mídia é um instrumento eficiente). Sim, a ayahuasca te
incita a mudar, ela te chacoalha inteiro e faz você escolher qual caminho você
deseja seguir e escolher o caminho oposto do senso comum, é muito, mas muito
difícil mesmo, mas é uma escolha pessoal e consciente.
Fuja da Ayahuasca! Ela vai te fazer parar de beber,
fumar, se drogar, vai te mostrar que você deve se importar com o que você
ingere, de como você se alimenta e cuida do seu corpo e sua saúde. Não fazer
mais o mesmo que antes, assusta e incomoda as pessoas, porque é um absurdo
social você não mais beber, não comer mais carne e questionam, por quê isso?
Deve ser esse chá que você está tomando, você está ficando louco! Estou louco
sim, não quero a "sanidade" que conduz essa humanidade tão
egocêntrica e nociva.
Alucinógeno! Quem não conhece só pode dizer que é um
alucinógeno, para difamar o chá e quem dele comunga, só mais um ato de
desinformação vinda de desinformados. Claro que causa alucinações, esse
"chá dos índios" faz você perceber que quem vive corretamente são os
índios, os nativos que buscam viver em harmonia com a natureza, respeitando a
vida tão abundante dentre esse vasto jardim chamado Terra, respeitando os seus
ciclos e tudo o que ela oferece de alimentos, de ensinamentos e de curas, ou
não é na natureza que estão todos as curas?
A partir do que são desenvolvidos os medicamentos? Não
seriam das plantas? Só porque você compra na "Drogaria" não vem da
natureza? Mais fácil confiar numa indústria que tira a planta da terra, leva
para o laboratório, cria a doença e o medicamento e faz propaganda sobre, do
que confiar nas plantas que não te pedem nada em troca, simplesmente existem
pra te auxiliar, estão ali, disponíveis, apenas são o que são.
PERIGO! O status quo começa a não fazer mais sentido,
ganha força dentro de você uma necessidade de despertar a sua essência, o seu
EU perdido, escondido sobre tantas cortinas de mentiras, paredes e quilos e
mais quilos de concreto, você agora deseja ser livre e verdadeiro, ser quem
realmente você é, resgatar sua verdade interior, sem que o senso comum te
conduza, agora você quer sentir e agir, ao invés de só seguir o fluxo.
Em um mundo doente, onde as pessoas se drogam
constantemente e ignoram esse fato, quando algo começa a ter um efeito oposto,
o de fazer você deixar de se drogar, gera um incomodo tão grande em quem ainda
segue o fluxo do ideal de mundo são, onde impera o ódio, o rancor, a
ignorância, a arrogância, pensar em buscar viver em amor e harmonia é coisa de
louco.
Eu já vi a Ayahuasca curar muita gente, inclusive eu,
acontece mesmo de pessoas próximas se afastarem de você após o chá, porque a
sua mudança é tão profunda que certas coisas passam a não fazer mais sentido e
você não querer mais uma vida nociva, é nocivo as suas relações doentes e
afasta pessoas que não compreendem que a sua mudança é porque você não quer
mais estar preso nas correntes de uma falsa realidade, você deseja a realidade,
a vida real.
É pura consciência, todas as mudanças são através da
plena consciência, agora se questionem: o mundo está São? O que é a sanidade?
Quantas histórias lindas de transformação através da Ayahuasca, Medicina
Ancestral que cura alma, mente e corpo, Patrimônio Cultural da Humanidade,
ferramenta que trás sanidade para mentes e espíritos doentes.
Agradeço todos os dias por estar caminhando em busca da
lucidez e tendo como ferramenta essa poderosa alquimia da floresta, chamada
Ayahuasca!
Que seja compreendida e respeitada a dor de uma família,
mas fatalidade não tem culpado.
#RespeiteOChá
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por Bia Labate
CASO RIAN
Lamento a morte de Rian e expresso minha solidariedade à
família.
Contudo, é igualmente lamentável ver a mídia repetindo
velhos estereótipos sobre a ayahuasca. Escrevi bastante sobre isto na época do
Glauco (veja http://bit.ly/1M7LITW, http://bit.ly/1M7LMmD, http://bit.ly/1Bt9OGK)
Sem pesquisa, ou nenhum tipo de evidência – por exemplo,
detalhes sobre em que condições tomou a substância, quantas vezes, qual foi a
última vez, se tinha um quadro psiquiátrico prévio, se havia co-morbidade etc --, pulam facilmente para a
conclusão de que a ayahuasca teria seria responsável pela morte. Ninguém
insinua, por exemplo, que poderiam ser os medicamentos antidepressivos,
temporadas isoladas na natureza, período de internação, longos jejuns, ou
passagem por João de Deus (coisas que Rian também fez) os responsáveis pela
morte. A ayahuasca deve ser, obviamente, a causa.
Sabe-se que a ayahuasca, classificada normalmente na
família clássica dos “alucinógenos”, é
uma substância forte e poderosa, e pode sim, em determinados casos, envolver
reações adversas (assim como outros psicodélicos). Publicamos dois livros que
abordam de alguma maneira este assunto: Ayahuasca y Salud (Los Libros de la
Liebre de Marzo, 2014) e The Therapeutic Use of Ayahuasca (Springer, 2014). O
resultado da pesquisa cientifica é claro: (a) pode sim haver riscos; (b) há
inúmeras evidencias de benéficos; (c) os benefícios são muito maiores do que os
riscos; (d) o contexto de consumo é fundamental; (e) no Brasil, o uso da
ayahuasca ocorre sobretudo em contexto ritual e religioso.
Existe um debate de 25 anos no nosso país a respeito da
regulamentação da ayahuasca. A mídia, ao contar histórias como a de Rian,
promove um reducionismo ao agir como se nunca tivesse havido uma discussão
sobre este tema.
Indo além: ainda que fosse provada uma causalidade entre
a morte de Rian e o uso da ayahuasca, a questão da regulamentação ainda se
colocaria. Por exemplo, algumas celebridades famosas morreram por conta do uso
indevido do álcool. Alguém cogita suprimir a existência do álcool por conta
destas tragédias? Não.
A regulamentação do uso da ayahuasca no Brasil é um
exemplo de política pública eficaz, que tem influenciado países de todo o
mundo. É uma iniciativa única onde o governo se reuniu com praticantes e
pesquisadores para chegar a acordos comuns, que funcionassem para todos.
Esta regulamentação poderia ser melhor? Sim, claro. É bom
utilizar este triste episódio para pensar concretamente que controles e
contextos poderiam ser aprimorados? Sim. Mas a caça as bruxas, o acionar de
velhos tabus e estigmas, a associação entre loucura e droga, ou droga e
violência, só colabora para atrofiar a realidade existente (uma determinada
população que bebe a ayahuasca ou irá beber). Este tipo de mídia faz a
discussão voltar para atrás.
Termino compartilhando que realizei pesquisa etnográfica
no grupo Porta do Sol em suas origens em São Paulo, retratando-o no meu livro A
Reinvenção do Uso da Ayahuasca nos Centros Urbanos (Mercado de Letras, 2014).
Minha pesquisa com este grupo é bem antiga, ocorreu entre 1998 e 2000. Atesto
que na época encontrei pessoas responsáveis e amáveis, tanto na direção quanto
entre os participantes. Não acompanhei de perto os desdobramentos da expansão e
diversificação deste grupo.
Antes de vilificar a ayahuasca, como notou um colega,
seria importante a mídia destacar a importância de colocar um aviso na praia
onde Rian se afogou, pois os moradores da região relataram que o local não é
próprio para banho devido à forte correnteza, e não há placa alguma nesta
direção.
(Beatriz Caiuby Labate) é Doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Suas principais áreas de interesse são o estudo de substâncias psicoativas, políticas sobre drogas, xamanismo, ritual e religião. É Professora Visitante do Centro de Pesquisa e Estudos de Pós Graduação em Antropologia Social (CIESAS), em Guadalajara, e Professora Associada do Programa de Política de Drogas do Centro de Pesquisa e Ensino em Economia (CIDE), em Aguascalientes, México. É autora, coautora e coeditora de doze livros, de uma edição especial de um journal acadêmico e de vários artigos indexados. Também é coordenadora e editora de site do NEIP.
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