Oi gente,
Hoje quero fazer algumas considerações para as pessoas que estão pensando em tomar o chá.
Em pleno século XXI é inadmissível alguem dizer que faltou informações a respeito de qualquer assunto, por esse motivo resolvi fazer mais um vídeo alertando o pessoal que pretende conhecer a Ayahuasca.
Numa das reportagens que li ontem, vi um trecho do depoimento da Elke Maravilha fazendo uma ressalva extremamente importante:
"...sou a favor do uso para as pessoas que querem ampliar suas consciências. O chá abre a sua mente.Se não for para autoconhecimento, é uma merda — O risco é você ficar consciente demais dos problemas da vida e acabar pirando."
Então, se você não quer ficar consciente demais não tome o chá!!!
Ele vai ampliar a sua visão e não tem como sair de um ritual como esse sendo a mesma pessoa de antes.
Avalie bem se é isso que você está procurando.
Deixo abaixo um artigo sobre a segurança do uso de Ayahuasca.
Beijos no coração
Namastê
SOBRE A SEGURANÇA DO USO DE AYAHUASCA.
por Prof. Luis Fernando Tófoli - Unicamp
Uma de minhas linhas de pesquisas é sobre a ayahuasca, o
“chá do Santo Daime”. Estamos construindo um grande grupo interdisciplinar para
investigar o assunto na UNICAMP e fomos aprovados em um financiamento do Ministério
da Justiça para investigar o potencial desse chá no tratamento de alcoolismo.
Os tristes acontecimentos que levaram à morte de Rian
Brito, filho de Niso Neto e Brita Brazil e neto de Chico Anysio, reacenderam a
discussão sobre os riscos associados ao uso desta substância psicoativa. Assim,
achei que seria importante apresentar alguns dados e reflexões sobre alguns
aspectos relacionados ao chá.
O primeiro ponto, e o mais importante, é que não se pode
minimizar a dor de uma mãe que perde seu filho. Eu me solidarizo com o os
sentimentos da Brita Brazil, e compreendo perfeitamente o movimento que ela
está fazendo a partir da triste história que ela vivenciou. Ao mesmo tempo, não
tenho condições de opinar sobre o caso em si somente com informações de imprensa,
então vou tentar resumir algumas informações importantes sobre a ayahuasca que,
a meu ver, precisam ser ponderadas neste momento.
No Brasil, o uso de ayahuasca para fins religiosos e
rituais, além do científico, é autorizado. Em uma recente pesquisa online
inédita com 638 pessoas que beberam o chá, Eduardo Schenberg, Dartiu Xavier da
Silveira e eu evidenciamos que a maioria esmagadora (94%) o fez em contexto
ritual.
Na resolução do Conselho Nacional de Políticas de Drogas
em que o uso ritual é autorizado fica explícito que a comercialização do chá é
vedada. A resolução também explicita que pessoas portadoras de transtornos
mentais graves não devem beber ayahuasca, e que as religiões ayahuasqueira
devem entrevistar previamente os interessados para evitar que isso aconteça.
Tomado esse cuidado, a chance de um evento grave
associado ao uso do chá é raro, comparado ao seu uso relativamente frequente. A
partir de dados que estudamos na União do Vegetal, religião ayahuasqueira que
registra as ocorrências de saúde mental que acontecem em seu âmbito, pudemos
verificar que o risco de incidência de um surto psicótico é semelhante ao que é
esperado para pessoas da população geral (Lima & Tófoli, 2011). No entanto,
é preciso frisar que a UDV (assim como outros grupos ayahuasqueiros
responsáveis) faz uma triagem para evitar que pessoas que já tenham tido
sintomas psicóticos bebam hoasca, que é como a UDV denomina a ayahuasca.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é que a
ayahuasca apresenta um potencial terapêutico que vem sido mais recentemente
estudado pela ciência biomédica (Bogenschutz e Johnson, 2016), apesar de já ser
um achado antigo das ciências sociais (Labate e Araújo, 2004). Mais detalhes
sobre este assunto podem ser encontrados no livro 'The Therapeutic Use of
Ayahuasca' (Labate e Cavnar, 2014).
Há no momento estudos em diversas fases de andamento para
investigar o potencial terapêutico da ayahuasca em pelo menos três transtornos
psiquiátricos: depressão, uso problemático de álcool e transtorno do estresse
pós-traumático – e eu estou envolvido nos dois primeiros deles. Esperamos em
breve poder trazer mais informações sobre isso.
São extremamente frequentes os relatos de pessoas que
começaram a frequentar religiões ayahuasqueiras e se livraram do uso
problemático de drogas. Também já há evidências de laboratório, com animais, de
um efeito terapêutico da ayahuasca para o abuso de álcool (Oliveira-Lima et al,
2015).
Uma das reflexões importantes sobre o episódio é
reforçarmos o cuidado com as pessoas que bebem o chá pela primeira vez. Estas
devem se seguidas de perto, e na ocasião infrequente de apresentarem sintomas
psicóticos como delírios (ideias estranhas que só a pessoa acredita) ou
alucinações (ouvir ou ver coisas que outras pessoas não percebem) não devem
voltar a beber o chá sem, no mínimo, consultar um profissional de saúde mental,
de preferência um psiquiatra.
Eventos desse tipo são bastante raros, e devem ser
avaliados diante da liberdade religiosa e dos potenciais benefícios, mas isso
não significa que os grupos ayahuasqueiros não devam estar preparados para
estas eventualidades.
Assim, não estamos falando somente de uma substância
psicodélica com riscos – que sim, existem, como para qualquer substância
psicoativa como o álcool ou remédios antidepressivos ou sedativos – mas também
de benefícios. Para milhares de pessoas no Brasil, membros de religiões e
grupos ayahuasqueiros, a ayahuasca é compreendida como um instrumento de
crescimento pessoal e um fato de saúde mental.
Qualquer decisão política sobre o chá não pode ignorar
este grande contingente de pessoas (Anderson et al., 2012). Ao mesmo tempo,
qualquer discussão que aumente a chance de que as pessoas recebam o chá de mãos
responsáveis e cuidadosas é também certamente bem-vinda.
--
Referências bibliográficas
ANDERSON, B. T.; LABATE, B. C.; MEYER, M.; et al.
Statement on ayahuasca. The International journal on drug policy, v. 23, n. 3,
p. 173–5, 20 BOGENSCHUTZ, M. P.; JOHNSON, M. W. Classic hallucinogens in the
treatment of addictions. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological
Psychiatry, v. 64, p. 250–258, 2016.
LABATE, B. C.; ARAÚJO, W. S. O uso ritual da ayahuasca.
Campinas: Mercado de Letras, 2004.
LABATE, B. C.; CAVNAR, C. The therapeutic use of
ayahuasca. Heidelberg, Springer Verlag, 2014.
LIMA, F. A. S.; TÓFOLI, L. F. An Epidemiological
surveillance System by the UDV: Mental health recommendations concerning the
religious use of Hoasca. In: B. C. Labate; H. Jungaberle (Eds.); The
Internationalization of Ayahuasca. p.185–189, 2011. Zurich: LIT Verlag.
OLIVEIRA-LIMA, A. J.; SANTOS, R.; HOLLAIS, A. W.; et al.
Effects of ayahuasca on the development of ethanol-induced behavioral sensitization
and on a post-sensitization treatment in mice. Physiology and Behavior, v. 142,
p. 28–36, 2015.
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