Os desafios de um esporte de resistência como a maratona
aquática são os mais diversos. Além dos adversários, os atletas enfrentam a
temperatura da água, as condições climáticas do dia, a correnteza de onde é
realizada a prova, o Michel Teló ... Pois é, o Miéhel Teló. "É comum levar
para dentro da água uma musiquinha boba que gruda da cabeça e vai te importunar por toda a prova. E, poxa, é horrível!" , conta o•
atleta Matheus Evangelísta, quinto melhor nadador do mundo em águas abertas
pela Federação Internacional de Natação.
Se já é difícil realizar uma prova como a Rio Negro Challenge,
em Manaus, onde a temperatura exterior é de 40 'C e da água éhega a 33 •C,
imagine cumprir esses 30 km cantarolando Ai, se eu te pego. É contra essa e
outras armadilhas menos infames da nossa mente - um fracasso passado, o
fantasma de uma lesão recorrente - que atua o treinamento mindfulness. Segundo
Maurício Marques, doutor em psicologia do esporte e um dos preparadores de Matheus,
inserir nas rotinas de treinamento exercícios de mindfulness auxilia o atleta,
na hora de uma competição, a ter consciência do seu fluxo mental: "O
mindfulness é uma técnica para que o atleta habite o corpo.
É um meio de afastar um pensamento negativo que possa
estagná -10" , explica.
O objetivo de um treinamento mindfulness em um jogador de
futebol, por exemplo, é fazer com que
ele consiga trazer o seu pensamento para
o vento batendo no rosto, para a textura da bola ao encaixá-Ia na marca da cal e,
assim, esquecer tanto das últimas duas cobranças de pênalti perdidas quanto da
taça que o aguarda caso converta a cobrança. Focado nas sensações do presente,
o atleta se mantém tranquilo e vigilante ao mesmo tempo.
Daí a recente popularidade da prática entre atletas de alta
performance, como a lenda do basquete Le Bron James (procure no YouTube vídeos
dele meditando em quadra) e a dupla tricampeã olímpica no vôlei de praia dos
Estados Unidos, Misty May- Treanor e Kerri Walsh, Talvez o fã mais ilustre, o
tenista Novak Djoko vic foi questionado em abril passado pelo site da ATP sobre
Roland Garros, o único troféu de Grand Slam ausente da sua estante. A um mês e
11 dias do torneio, Djoko respondeu praticamente um tratado sobre o mindfulness.
"Eu não gosto da palavra obsessão porque ela não vem da emoção certa.
Roland Garros é um desejo.
e um objetivo. Eu sinto que nos últimos anos eu consegui
treinar a minha mente para ficar o mais tempo possível no tempo presente e
focar no que vai acontecer a seguir", disse Djoko. "Claro, como todos
os jogadores, eu planejo coisas à frente. Mas, quando você precisa operar como
uma máquina humana, você necessita fazer isso apenas no momento presente.
Quando o momento chegar, eu vou pensar nele mais do que estou pensando
agora", completou o campeão de 12 Grand Slams.
Em 2016, a hora chegou. Djokovic pensou em Roland Garros e
levantou o troféu inédito.
METÁFORAS VISUAIS Além dos exercícios de meditação e
respiração no dia a dia, Matheus Evangelista tenta explicar como o mindfulness funciona em tempo real:
"Na prova no Rio Negro (realizada em maio de 2015), a adversidade era a temperatura
da água. Então o meu pensamento era inspirar vermelho e expirar azul. Pensava
nas cores enquanto realizava a respiração, apostan-
do na associação que fazemos entre elas com o calor e o frio.
O mindfulness foi o que me transformou de simples competidor em um medalhista".
Respirando com tranquilidade Rio Negro adentro, Matheus
superou o favoritismo do campeão mundial Dámian Blaum e venceu a prova em
sh22min4s. Cozido em águas manauaras, o argentino se desestabilizou e não resistiu
às investidas do rival. Terminou longos cinco minutos atrás do brasileiro e
ficou no Ai, se eu te pego.
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