Neste trecho, Viviane critica como a psicanálise trata o
sofrimento:
"Está tudo errado o mal estar na civilização, tudo
errado! O sofrimento move a vida, o sofrimento é bacana. O problema da
psicanálise é tratar o sofrimento mal. A psicanálise quer diminuir o sofrimento
humano? Eu acho que devia aumentar! É o sofrimento que nos move, eu não tenho
que buscar o sofrimento mas eu não tenho que achar que eu tenho que acabar com
o meu sofrimento: não sou eu que acabo com o meu sofrimento, é o meu sofrimento
que acaba por ele. (…) Nós não queremos dar o tempo do sofrimento no corpo, que
é o rastro do sofrimento que rasga a sua aula pra ela ficar mais larga. Uma das
razões do sofrimento é o rompimento da alma, pra ela se tornar maior, e quando
a alma se torna maior, ela cabe mais mundo, ela permite mais contradição, então
uma pessoa amadurece quando ela lida melhor com o sofrimento. Nós somos uma
sociedade infantilizada, porque quando nós sofremos, começamos a dar piti… que
piti, aguenta, suporta! Que porcaria de ser humano é esse que não aguenta
sofrer?"
A filósofa pondera sobre a importância do sofrimento no
crescimento e transformação:
"Eu sou uma pessoa que gosta da vida. Eu não gosto de
ser alegre, eu não gosto de ganhar, eu não gosto de ser feliz… eu gosto de
viver, e viver é um kit completo. Quem gosta de viver gosta da vida. Eu não
procuro o sofrimento, eu não preciso porque ele me procura, agora, quando ele
vem eu pergunto "o que você quer de mim? Que aspecto da minha alma precisa
crescer e se transformar, o que você quer me dizer, sofrimento?" Aí eu
converso com ele, ele fica um tempo e vai rápido embora . Agora, quando ele vem
– e ele vem da vida, ele vem da exterioridade, ele vem do choque do homem com a
civilização e com a natureza, e das relações – só que esse choque, ele vem para
minha alegria, então o que que é alegrar-se? É ser capaz de sustentar o
infinito. O que é o homem diferente dos outros animais? O homem é o único que
sabe que vai morrer, o homem é o único animal que vê a exterioridade, ele vive
e sabe que vive, então todo homem carrega nas costas o infinito. Aí eu
pergunto: Quem é o homem bacana? É o que suporta o infinito, e isso implica na
capacidade de ser resistente, de suportar, de aguentar… Não. Eu sou criada
comprando, amando, que aí você mata o seu amor, porque você quer amar pra parar
de sofrer, aí você pega o amor e engole, mata, sufoca e não consegue ficar mais
que um ou dois anos com alguém, porque você matou o seu amor de tanta ansiedade
para salvar a sua vida."
Mosé ainda fala sobre o valor da vida:
"O que que nós não temos na civilização? O valor da
vida, e a vida implica em ganhar e perder, a vida está além do ganho e da
perda. O que me faz bem não é ganhar ou perder, o que me faz bem é ser potente
para viver, e isso é bacana, eu agradeço a cada um dos meus sofrimentos, eu não
abriria mão de nenhum deles, e mais, se minha vida está muito reta demais, eu
arrumo logo um abismo pra eu me jogar."
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