(1879-1950)
Oi gente!
Hoje quero falar sobre Ramana Maharshi, lembrando que amanhã dia 14 de Abril, completará 68 anos da sua morte física. Digo "morte física", pois Ele mesmo disse em sua experiência de Samadhi que a morte não existe.
Ter visitado Tiruvannamalai onde ele viveu foi especial e ver a devoção dos indianos para com seu guru foi emocionante demais.
Vou deixar aqui algumas fotos do meu arquivo pessoal durante minha viagem à Índia, logo após um artigo contado sobre sua história e um vídeo com suas imagens.
Beijos no coração,
Hari OM
PORTA DO ARSHAM DE SRI RAMANA MAHARSHI |
ARUNACHALA - A MONTANHA ONDE RAMANA VIVEU |
Túmulo de Ramana em seu Templo |
Sri Ramana Maharshi nasceu em 30 de dezembro de 1879 em Tiruchuzhi,
uma cidade na província Tamil Nadu, ao sul da Índia. Seus pais lhe deram o nome
de Venkataraman.
Nada havia de anormal no rapaz. Possuía um corpo forte, se destacando
no futebol, artes marciais, natação, entre outros esportes. O único fator
incomum a respeito de Venkataraman era o seu sono profundo, inabalável, e sua
assombrosa força física. Seu sono era tão profundo que em certas ocasiões seus
colegas – que jamais tinham a oportunidade de vencê-lo em um combate –
aproveitavam-se de seu estado para carregá-lo para fora de sua cama, dar-lhe
uma surra, e então “devolvê-lo” ao seu quarto, sem que Venkataraman jamais
suspeitasse do ocorrido.
O garoto não manifestava nenhum interesse em espiritualidade,
meditação ou religião. Seus únicos contatos com assuntos espirituais foram uma
vez quando ouviu falar da montanha sagrada Arunachala – o que lhe despertou
profunda reverência e interesse – e outra quando teve a oportunidade de ler o
Periyapuranam, que é uma coleção de biografias de 63 santos da seita Saiva
[adoradores de Shiva] da religião hindu. Entretanto, aos seus 16 anos de idade,
em julho de 1896, ocorreu uma experiência que transformou a sua vida para
sempre. Ele mesmo a descreve:
“Foi mais ou menos seis semanas antes de deixar Madurai
permanentemente que a grande mudança ocorreu na minha vida. Aconteceu
inesperadamente. Eu estava sentado sozinho em uma sala do primeiro andar da
casa de meu tio. Eu raramente adoecia, e naquele dia minha saúde estava normal,
mas repentinamente eu fui tomado por um violento medo de morrer. Nada no meu
estado de saúde explicava isso, e eu não tentei justificar esse medo, nem
procurei suas causas. Eu apenas senti ‘Vou morrer’ e comecei a pensar o que
fazer a respeito disso. Não pensei em consultar um médico, meus parentes ou
meus amigos; eu senti que precisava resolver o problema por mim mesmo, ali
mesmo.
O choque do medo da morte fez minha mente voltar-se para o interior, e
eu disse a mim mesmo, sem na verdade moldar em palavras: ‘Agora a morte chegou;
o que isso significa? O que está morrendo? O corpo morre.’ Então imediatamente
comecei a dramatizar a ocorrência da morte. Eu deitei com os meus membros
esticados e duros como se estivesse ocorrendo o rigor mortis, e imitei um
cadáver para tornar a inquirição mais realista. Prendi a respiração e mantive
os lábios firmemente fechados a fim de não deixar escapar nenhum som, de
maneira que nem mesmo a palavra “eu” e nem qualquer outra palavra pudesse ser
pronunciada. ‘Então’, disse a mim mesmo, ‘este corpo está morto. Ele vai ser
carregado duro até a pira de fogo e lá será queimado e reduzido a cinzas. Mas
com a morte deste corpo eu morro? Este corpo é o Eu? Ele está silencioso e
inerte, mas eu sinto a força total de minha existência, e até mesmo a voz do
“eu” dentro de mim, separadas do corpo. Então eu sou o espírito que transcende
o corpo. O corpo morre, mas o Espírito que o transcende não pode ser tocado
pela morte. Isso significa que eu sou o Espírito Imortal’. Isso tudo não foi um
pensamento obscuro; foi uma verdade viva que brilhou através de mim e que
percebi diretamente, quase sem o processo do pensamento. ‘Eu’ era algo muito
real, a única coisa real no meu estado presente, e todas as atividades
conscientes ligadas ao meu corpo estavam centradas naquele ‘Eu’. A partir
daquele momento o ‘Eu’ ou ‘Si-mesmo’ focou a atenção em si mesmo por meio de
uma poderosa fascinação. O medo da morte desapareceu de vez, e a absorção no Eu
Real continuou ininterrupta desde então.”
Neste momento sua individualidade dissolveu-se no Eu Real, e aquele
jovem indiano que nada tinha de promissor transforma-se em um dos maiores
Sábios que a Índia já conheceu. Na terminologia espiritual, ele havia
“Realizado o Eu”, ou “Alcançado a Iluminação/Libertação”; o que normalmente
surge apenas como resultado de anos de intensa prática espiritual (sadhana),
para o jovem Sábio surgiu espontaneamente, sem nenhum prática ou desejo
prévios.
Movido por um chamado interior, Venkataraman abandona seus estudos e
sua vida em sociedade, e parte rumo à Tiruvannamalai,
a cidade em que se situa a lendária montanha de Arunachala.
Chegando ao seu destino, o garoto iluminado joga fora todo o seu
dinheiro e posses, e entrega-se a desfrutar profundamente o estado de Paz e
Beatitude recém descoberto. Sua absorção nesta Consciência era tão profunda que
ele permanecia desligado de seu corpo e de todo o mundo exterior por dias a
fio. Durante os dois ou três anos em que permaneceu imerso neste profundo
estado de samadhi [transe],
mosquitos e escorpiões comiam parte de seu corpo, seu cabelo e unhas cresceram
enormemente, sendo que se alimentava apenas quando um transeunte apiedado com o
estado deplorável do seu corpo lhe oferecia algo para ingestão. No final deste
período Venkataraman começou aos poucos a retomar a sua vida física normal –
transição esta que se completou apenas alguns anos depois – mas sem nunca
perder a consciência de seu verdadeiro Eu.
Na medida em que o jovem Sábio foi retomando consciência do mundo
exterior, passou a irradiar uma aura de Paz que começou a atrair buscadores
interessados em beneficiar-se de sua presença. Em seus primeiros anos
Venkataraman permanecia em completo silêncio, sendo que eventuais perguntas de
buscadores que o visitavam ou moravam em sua proximidade eram respondidas sendo
escritas em pedaços de papel ou na areia. Àquela época, um de seus primeiros
seguidores, impressionado pela sabedoria e santidade daquele garoto, deu-lhe o
nome de Bhagavan Sri Ramana Maharshi,
pelo qual passou a ser conhecido desde então. “Bhagavan” é um título honorífico
dado a grandes mestres iluminados, significando “Senhor”; “Sri” é um prefixo de
respeito; “Ramana” é contração de seu nome de batismo; “Maharshi” significa
“Grande Sábio”.
Mesmo depois de vários anos, quando Sri Ramana voltou a falar, falava
muito pouco, de forma que seus ensinamentos eram transmitidos por outros meios.
Ao invés de dar instruções verbais ele constantemente emanava uma força
silenciosa que aquietava as mentes daqueles que estavam em sintonia com ela, e
ocasionalmente até mesmo lhes dava uma experiência direta do estado no qual ele
mesmo estava perpetuamente imerso. Anos depois ele tornou-se mais disposto a
dar ensinamentos verbais, mas, mesmo então, os ensinamentos silenciosos sempre
estavam à disposição daqueles que sabiam fazer bom uso deles. Ao longo de sua
vida Sri Ramana insistia que esse fluxo silencioso de energia representava seus
ensinamentos em sua forma mais direta e concentrada. A importância que ele dava
a isso é indicada por suas assertivas frequentes no sentido de que seus
ensinamentos verbais serviam apenas àqueles que não podiam compreender seu
silêncio.
Na medida em que os anos passaram ele tornou-se cada vez mais famoso.
Uma comunidade cresceu em volta dele, milhares de visitantes vinham vê-lo, e
durante os últimos vinte anos de sua vida ele era largamente conhecido como o
Santo mais popular e reverenciado da Índia. Alguns desses milhares eram
atraídos pela paz que eles sentiam em sua presença, outros pela propriedade com
a qual ele guiava buscadores espirituais e interpretava ensinamentos
religiosos, e outros simplesmente vinham falar de seus problemas e sofrimentos.
Quaisquer que fossem as razões, praticamente todos que tinham contato com ele
saiam impressionados com a sua simplicidade e humildade. Quando uma vez o então
presidente da Índia prestou uma visita a Mahatma Gandhi, este lhe disse “se
você está buscando a Paz, sugiro que visite Ramana Maharshi.”
Bhagavan estava disponível aos visitantes vinte e quatro horas por
dia, uma vez que dormia e vivia em um espaço comunitário, o qual estava sempre
acessível a todos, e seus únicos bens eram a sua roupa do corpo, um pote de
água, e sua bengala. Embora fosse adorado por milhares como uma encarnação
divina, ele se recusava a permitir que qualquer um lhe tratasse como alguém
especial, e recusava receber qualquer coisa que não fosse igualmente dividida
entre todos a sua volta. Sri Ramana trabalhava ativamente junto em sua
comunidade e por muitos anos acordou diariamente às 3:00 da manhã para preparar
comida para os residentes no ashram. Seu sentimento de igualdade era
legendário. Os visitantes eram todos tratados com respeito e consideração
iguais, fossem eles mendigos, executivos, membros da realeza, ou animais. Seu
senso de equanimidade se estendia até mesmo às árvores locais: ele
desencorajava seus seguidores a arrancarem flores ou folhas das árvores, e
buscava assegurar-se de que a retirada de toda e qualquer fruta delas fosse
feito da maneira que a árvore sofresse apenas a quantidade mínima de dor.
Assim, ao longo de mais de 50 anos, vivendo aos pés da montanha
Arunachala, Sri Ramana deu ensinamentos e transformou as vidas de inúmeros
visitantes e buscadores. Boa parte de seus ensinamentos foram anotados e
publicados, constituindo assim uma herança espiritual inestimável para a
humanidade, apontando um caminho direto e eficaz, acessível a todos aqueles que
desejem alcançar o estado de Liberdade do qual tais ensinamentos emanaram.
Sri Ramana Maharshi deixou o corpo físico em 14 de abril de 1950,
padecendo de câncer. Em nenhum momento, entretanto, demonstrou qualquer espécie
de preocupação ou aflição com a grande dor física que seu corpo sofreu nos
últimos anos, ou com a perda do mesmo, permanecendo sempre com o mesmo olhar
imerso em Paz.
O resumo bibliográfico acima foi elaborado com base nos seguintes
textos:
SADHU OM. The Path of Sri
Ramana – Part I. Tiruvannamalai: Sri Ramana Kshetra, 1997.
GODMAN, David (editor).
Be As You Are. Londres: Penguin, 1985.
MAHADEVAN, T.P.M Bhagavan
Ramana. Tiruvannamalai: Sri Ramanasramam, 2005.
Artigo retirado do Site:
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