terça-feira, 18 de abril de 2017

Superinteressante MEDITAÇÃO: ANSIOLÍTICO NO CELULAR

 



Tudo começou com um garoto inglês metido na aula de meditação da mãe na esperança de aprender kung fu. Aos 11 anos, Andy Puddicombe gostou da técnica, ainda que não fosse uma arte marcial, mas o entusiasmo não sobreviveu à adolescência, quando esportes e festas se tornaram uma prioridade. O que parecia evoluir como uma vida saudável sofreu um grande abalo aos 18 anos, quando quatro tragédias no intervalo de seis meses ocorreram: a meia-irmã morreu num acidente de bicicleta, uma ex-namorada não resistiu a uma cirurgia no coração e dois amigos foram atropelados e mortos por um motorista bêbado. De pé no mesmo grupo,
Andy escapou por um triz

INICIANTES PODEM USAR O HEADSPACE DE GRAÇA POR 10 SESSÕES DE 10 MINUTOS

O impacto inicial do trauma se dissipou com o tempo, mas uma sensação incômoda persistiu. Quando já era um estudante universitário em Bristol, Andy decidiu mergulhar em si mesmo. O orientador da faculdade sugeriu Prozac, mas o rapaz estava decidido a tornar-se monge.
Embarcou aos 22 anos para a Índia e iniciou um treinamento que incluía 18 horas de meditação diária e celibato. A jornada o levaria ainda ao Nepal, à Tailândia, ao Tibete e, por fim, à Rússia, onde ficou por quatro anos depois de ser ordenado. Lá mesmo, no início dos anos 2000, quando a vida monástica começava a trazer dúvidas, um encontro com executivos do ramo do petróleo trouxe a epifania: e se a meditação fosse tirada de seu isolamento e levada ao centro da vida moderna?

De volta à Europa, Andy se fixou em Londres .. Fez algumas aulas de circo e acabou,  na clínica que o contrataria para dar suas primeiras aulas de atenção plena. A Inglaterra acabara de aprovar o uso do mindfulness para o tratamento de depressão, mas não havia tantos profissionais de saúde pública especializados na técnica - em uma pita- da complementar do destino, na ocasião ele também conheceu sua atual mulher, Lucinda, uma fisioterapeuta.
Seus primeiros alunos eram na grande maioria homens estressados por causa da crise financeira. Meditação e vida moderna se encontraram, enfim, nessa audiência difícil, que exigiu uma linguagem direta, sem misticismo. Na mesma época, aos 32 anos, Andy conheceu o atual sócio, o publicitário Riéhard Pierson, e com ele fundou a Headspace, em 2010. Inicialmente tratava-se de uma empresa que vendia aulas de meditação presenciais. Mas a dupla logo recebeu pedidos para flexibilizar o formato. Foi quando avoz de Andy começou a ser gravada em podcasts e, em 2012, se transformou num amigável aplicativo para smartphones.

APERTE O PLAY Você precisa pagar para usar o free trial do Headspace, mas os iniciantes podem testar o app de graça por dez sessões. É um início suave para quem nunca meditou. O usuário é guiado pela voz de Andy em sessões de apenas 10 minutos, que podem ser acionadas a qualquer hora do dia (mas fixar um horário, sugere o professor, ajuda a criar uma rotina). "Respire-fundo, sinta o encosto da cadeira nas costas, conte as respirações": essas são as .primeiras orientações. Nada de religião nem grandes acrobacias mentais. O mindfulness proposto pelo britânico começa simples e
básico antes de maiores dúvidas surgirem, os
10 minutos acabaram.

A aposta de Andy e Riéhard é que esse tempo diminuto traga alterações pequenas mas perceptíveis no humor. Para seguir viagem, o app oferece assinaturas pagas com toda a biblioteca do Headspace disponível para o celular. As sessões duram até 60 minutos e têm objetivos precisos: lidar com a depressão, melhorar o foco no trabalho, viver uma boa gravidez e sentir se mais feliz. Há também exercícios para comer com mais atenção (e, portanto, menos e melhor) e andar de metrô sem stress,
No app, os ensinamentos budistas aparecem em vídeos protagonizados por Andy ou por um simpático mascote animado, um cérebro que vai ganhando músculos à medida que as sessões se acumulam. As metáforas abundam, como a vida é uma rodovia, e os pensamentos são os carros; você pode tentar embarcar em cada veículo ou apenas sentar-se à beira da estrada para observar o movimento com calma. Em 2013, poucos meses depois da mudança de sede para os Estados Unidos, Andy foi diagnosticado com câncer de testículo.
"A meditação me ajudou a lidar com o problema", declarou à época.



CRIE UMA ROTINA Hoje, cerca de 6 milhões de pessoas usam o app, segundo dados da própria empresa. É muita gente convencida de que um aplicativo pode beneficiar o cérebro, e o sucesso pode estar relacionado à gamificação.
O uso de elementos típicos de logos, como recompensas e competição, já se mostrou eficaz para mudar hábitos em áreas tão diferentes como o esporte e o atendimento a clientes. Aqui,
também, tem o seu papel, enviando lembretes, parabenizando por dias consecutivos e dando

a chance de dividir os avanços com amigos. Isso pode ser uma ajuda na formação de uma rotina diária. "O lance sobre meditação é que falar sobre ela não adianta nada. Apenas fazê-Ia traz resultados" , diz Andy em um de seus vídeos. Em outras palavras, contratar seu serviço ou outros parecidos não vai promover nenhum milagre mental. Mas talvez ajude bastante a manter o ritmo da prática.







FIQUE ATENTO
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Embora atrativos, nem todos os aplicativos de mindfulness cumprem o que prometem. Em janeiro de 2016, o app Luminosity recebeu uma multa de US$ 2 milhões do governo americano por propaganda enganosa. Os anúncios da empresa continham palavras-chave como "demência", Alzheimer, "perda de memória", mesmo sem comprovar  eficácia contra essas doenças. Em 2015, o aplicativo Headspace laçou o "pacote depressão", que foi contestado por pesquisadores especialistas em meditação pela falta de estudos científicos que avaliassem o método do app.

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