Oi gente,
Dando continuidade aos posts da Revista Superinteressante Especial MEDITAÇÃO, segue o post da semana.
Beijos no coração.
Namastê
____________________________________ॐ________________________
ONDA ECUMÊNICA
OS últimos 500 anos antes de Cristo, justamente quando o Buda viveu, foram
especialmente frutíferos na Ásia. Não só
foi a época em que novas correntes do
pensamento indiano, como o budismo, o
ioga e jainismo, inventaram seu próprio caminho
até a iluminação, mas taoísmo
também começou a ganhar contornos na China. A doutrina
que hoje é seguida por
mais de 80% dos chineses (ou seja, 1 bilhão de pessoas), uniu a
sabedoria de
feiticeiras e xamãs wu, conhecidos pela habilidade de se conectar com a
natureza, com fundamentos da escola do yin e do yang, a filosofia que crê em
forças
opostas e complementares presentes em todo o Universo.
Há inúmeras referências à vida interior nos escritos de Chuang
Tzu, que elaborou textos
importantes do taoísmo no século 4 a.C. Neles, o autor
esclarece: quem quer ser feliz e
viver muito precisa olhar para dentro. A mente
é como um quartinho escondido pela
folhagem da nossa vida atarefada. "Olhem aquela sala fechada, a
câmara vazia em que
nasceu a claridade!
A fortuna e as bênçãos se reúnem onde há silêncio" ,
diz um de seus textos. Lao Tzu,
outro autor clássico do taoísmo, simplifica: "Sem sair da sua
porta, ele conhece tudo o que
está sob océu. Sem olhar pela sua janela, ele conhece todos os caminhos
que levam ao
céu".O tao também é descrito como uma grande via pública
celestial e, segundo
sua filosofia, convém aderir ao fluxo para se manter
saudável. A maneira de fazer isso,
ensinam os taoístas, é silenciandoo funcionamento comum da
mente, introduzindo aqui o
jejum, ou coisas mais simples, como o silêncio, os olhos fechados
e o controle da
respiração.
Ou seja, mais de 1 bilhão de chineses praticam meditação ou
ao menos confiam nos seus
poderes.
Vindo da Índia pela Rota da Seda, o budismo fincou raízes na
China no século 2 a.c., onde
se bifurcou em ramificações locais. Uma das mais importantes
viria a ser o zen, baseado
na observação da respiração e da mente, e no qual a meditação é
uma prática
fundamental. Da China, a doutrina migrou para Coreia, Japão e Vietnã - e a
expressão
"zen-budismo" entrou até na cultura ocidental. Ainda hoje, nos monastérios os textos
sagrados são recitados em cantos diários. As oferendas às imagens de Buda também são
comuns,
como é costume fazer aos antepassados nas casas de família. Outra corrente
importante criada a partir da Rota da
Seda foi a do budismo tibetano, no século 8. Hoje com
estimados 20 milhões de
seguidores, é a corrente do Dalai Lama, o equivalente ao papa budista. "Quando
alguém
está irritado, se começa a prestar atenção na respiração, depois de 10 ou 20
inspirações
seu estado já estará diferente um pouco mais calmo. O melhor jeito de lidar com
essas
emoções é a meditação. Não para a próxima vida nem para o Céu, mas para o bem-estar
diário", costuma repetir o líder religioso em entrevistas.
ESTADO DE GRAÇA O Ocidente também tem um antigo relacionamento
com a meditação.
O filósofo Sócrates era dado a êxtases espontâneos e costumava
ficar até 24 horas imóvel
absorto. Suas lições, que inauguraram a filosofia ocidental,
ensinam algo lembra muito o
pensamento do Sudeste Asiático: conhece-te a ti mesmo.
"De maneira muito semelhante,
GilgameSh, Moisés, Platão, Cristo e Maomé utilizaram o êxtase
para abeberar-se nas
extensões mais íntimas de suas psiques e permitir que seus discernimentos
profundos
afeiçoassem os destinos humanos", diz o estudioso das
religiões Willard Johnson em seu
livro Do Xamanismo à Ciência - Uma HiStória da Meditação. Resumindo,
na Grécia e na
Europa todas as meditações seguiram uma linha mais espontânea,
parecida ao que
chamamos de "estado de graça". Judeus, cristãos e muçulmanos
desenvolveram técnicas
que se assemelham à meditação. Recitar preces em ritmo repetido é uma delas. Mas,
segundo o estudioso Halvor Eifring, professor da universidade de Oslo e autor de três
compêndios sobre a história cultural da meditação, há uma grande diferença entre as
tradições
oriental e ocidental. Enquanto alinhagem asiática reforça a técnica e a
introspecção, judeus
e cristãos focam no conteúdo da meditação - sobre o que se medita
tem mais importância do
que o como. Não é por acaso que igrejas estão recheadas de
estátuas, vitrais e afrescos - como o teto da Capela
Sistina, no Vaticano, que conta parte
da Bíblia. As imagens que descrevem personagens e histórias
ajudam a criar o clima para
uma meditação de olhos abertos. O detalhe é que, sem o
significado das gravuras, os
exercícios deixam de fazer sentido para os católicos. Não se
pode substituir Jesus na cruz
por uma simples forma geométrica, por exemplo. Os orientais
preferem os desenhos
abstratos, o que ajudaria a concentração individual no
interior dos templos. É por essas
que o Vaticano tem implicância com a meditação oriental. Em
1989, uma carta enviada a
todos os bispos e assinada pelo então prefeito Joseph
Ratzinger (hoje papa emérito Bento
16) tratava meditação transcendental, zen e ioga como um
"problema" para os
católicos. A oração cristã, diz o texto aprovado pelo papa
da época, João Paulo 2°,
"recusa técnicas impessoais ou centradas sobre o
eu". Os católicos preferem as preces em
devoção a Deus ou aos santos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário