POR MARCO SCHULTZ
Na minha infância, cresci em um ambiente relativamente
espiritualizado, mas sem muita ligação com formalidades ou maneirismos desta ou
daquela tradição religiosa. Por parte da mãe, tive um pouco de influência protestante
e espírita (só mesmo no Brasil...). Por parte do pai, avó e também da escola onde
estudei, tive uma influência mais católica. Nada muito diferente do que várias
crianças também experimentam em nosso país.
Apesar de meus pais não serem pessoas religiosas
praticantes, tecnicamente falando, eles sempre tiveram a preocupação de passar
para mim e meus irmãos a importância de Deus em nossas vidas. Lembro-me de ir à
igreja, de ir ao centro espírita, mas lembro-me principalmente das orações que fazíamos
à noite antes de dormir. Assim aprendi a conversar com Deus...
Uma das características mais marcantes da maioria dos povos
do Oriente e das tradições tribais é o fato da vida espiritual estar integrada
à cultura, ao dia-a-dia das pessoas. O valor disso num nível mais profundo de
consciência é relativo, mas não há dúvida que nós podemos aprender com esses irmãos
a desenvolver uma relação mais próxima com o Sagrado em nossas vidas. Do
momento que sentirmos, autenticamente, que o Sagrado está em tudo, estaremos
comungando com Deus.
Lembro-me que, certa vez, viajando pelo sul da Índia,
visitei um pequeno templo dedicado a Hanuman. O templo estava vazio e decidi
aproveitar aquele auspicioso silêncio e meditar. Foi quando um senhor de idade
chegou e, se ajoelhando e em lágrimas, começou a conversar com Deus. Percebi
que aquela não era uma conversa simples, mas um verdadeiro desabafo pedindo
misericórdia e bênçãos para um momento de provação profunda. Depois deum bom
tempo, ainda sem perceber minha presença, o senhor foi embora mais calmo e
recomposto. E ali que quieto, emocionado, lembrando de tantos momentos
semelhantes àquele na minha própria vida.
Oração é conversar com Deus, é comungar com "Ele".
Neste sentido, o objetivo maior da nossa prática de yoga é desenvolver a
habilidade de orar, de rezar, de estar integrado a algo maior do que pensamos e
achamos que somos. Tão importante é ter a coragem, a humildade e a simplicidade
de iniciar uma conversa com "Aquele" (ou, se preferir,
"Aquilo"), que transcende nossa realidade egocêntrica, confusa,
iludida. Tão importante é se humildar, pedir a benção, o perdão, agradecer...
Quando começamos a nos relacionar com a vida além da sua
aparência superficial, quando entendemos que nosso momento humano faz parte de
uma dimensão mais ampla, quando compreendemos espiritualidade como a arte de
viver de forma mais consciente, responsável e equilibrada, estamos praticando
yoga, estamos orando, estamos conversando e comungando com Deus.
Nossa realização pessoal é um reflexo da relação que
desenvolvemos com "Ele". Em tudo.
Quando oramos e pedimos a benção, o perdão ou nos sentimos
agradecidos, somos nós mesmos, nosso potencial essencial, a presença de Deus em
nós, que se realiza. Muito além de crenças condicionadas, práticas vazias ou
projeções iludidas, aqui temos uma possibilidade simples, acessível e sempre
disponível.
Pare um pouco. E faça uma oração...
Texto escrito para coluna "Simples Mente" - Prana
Yoga Journal
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