terça-feira, 31 de outubro de 2017

EGO ESPIRITUAL

Oi gente!

Hoje iremos fazer uma reflexão sobre o Ego Espiritual. Isso veio depois do artigo abaixo que li semana passada.

 Acho bem interessante vocês darem uma lida também, segue o link:

Vamos sair da superficialidade dos julgamentos e finalmente olhar os fatos sobre uma outra perspectiva pq. só assim estaremos indo na direção do despertar.

Beijos no coração,

Namastê






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Acho importante primeiro vocês lerem esse artigo para depois assistirem o vídeo, ok?



Alienados Espiritualistas


Fuma maconha, sabe tudo de astrologia, se torna vegetariano, lê dois livros do Sri Prem Baba, vai a Machu Picchu, participa de um ritual de Ayahuasca num final de semana e tem certeza de que é “super energizado”



Cada vez mais tenho conhecido pessoas que se dizem espiritualizadas. Não são adeptas a nenhuma religião, seu conceito de Deus é bem abstrato — isso quando não se julgam ateias — e sua espiritualidade, grosso modo, é adquirida e exercida através de hábitos e comportamentos estritamente ligados ao consumo e à adesão a algum grupo.

A maioria se considera muito mais do que realmente é, se colocando numa posição acima que os demais, meros mortais, e carregam muito mais certezas do que dúvidas. Pegam um pouco dos conceitos básicos das principais religiões orientais aqui, sintetizam os ensinamentos de alguns profetas e gurus ali, compilam algumas mensagens de filosofia prática e de autoajuda acolá, e, nessa miscelânea de ideias, formam sua própria espiritualidade; por fim, concluem: tudo é energia.
Seria esse fenômeno a ressaca eminente das filosofias dos movimentos da contracultura de cinquenta anos atrás que ainda sentimos bater nas costas? Não sei dizer. E também não quero pagar de chato da semântica e da etimologia que vai propor dissecar o significado real da palavra espiritualidade para depois tecer críticas sobre nossa atual concepção.

Quero ser simples e pontual: neste louco início de século, arrisco dizer que o significado de espiritualidade nunca foi tão deturpado em relação a qualquer outra época. Não apenas deturpado, mas da mesma forma que fizemos com qualquer valor moral de outrora, com a espiritualidade não foi diferente: seu sentido foi esgarçado, pulverizado, relativizado e, principalmente, mercantilizado. Sobre tais mudanças, falo já. Antes, me deixa continuar com mais algumas críticas e insultos aos espiritualizados pós-modernos.

Vamos imaginar um caso. Uma pessoa que se diz espiritualizada e uma outra que se vê como problemática, desorientada, perturbada ou que então não se diz nada. Se fosse para escolher uma delas como amiga, provavelmente eu preferiria o segundo exemplo. Pois, repito: se alguns se dizem despertos, super conscientizados e se sentem elevados e energizados, prefiro considera-los, quase em todo caso, como presunçosos, vaidosos, imodestos. Vou ainda mais além: os problemáticos, os desorientados, os perturbados, estão mais próximos de Deus dos que aqueles que têm a certeza de serem “seres evoluídos”. Provável que evoluído seja só o tamanho do orgulho e da presunção do cidadão. Transcendência, no caso dessa galera, é a transcendência da pretensão. Pois o evoluído (pela primeira e única vez sem aspas neste texto), para mim, muito antes de se considerar santo, se vê, mais que tudo, como humano, demasiadamente falho e igual a todo o resto.

Revivendo o meme: espiritualidade nutella x espiritualidade raiz

Pelo pouco que sei da história dos profetas, dos santos e das religiões, a coisa nunca fugiu muito do padrão: atingir a espiritualidade demandava um processo contínuo e árduo, sempre passando por uma longa e difícil jornada de autoconhecimento da qual, muitas vezes, só era possível através do isolamento e da renúncia ao mundo.

A penitência dos monges que se isolavam no deserto durante anos, décadas, às vezes toda a vida, para enfrentar seus próprios demônios e ir em busca da purificação e da realização dos desígnios sagrados. 

Ascetas que praticavam mortificações e seguiam dietas rigorosas à base de água e algumas folhas por dia. Faquires que viviam na mendicância e se autoflagelavam, em alguns casos ateando fogo no próprio corpo, com o propósito de atingir a perfeição espiritual e provar o triunfo da alma. Iogues obstinados que, por meio de rigorosa disciplina, transformaram a própria estrutura física depois de forçar posições sobre-humanas para dar continuidade à busca do alcance de um despertar maior da consciência.

E, agora que descrevi alguns ‘espiritualistas raiz’, vamos, a título de comparação, caricaturar os ‘espiritualizados nutella’ da nossa geração.

1. A madame de floral que só come orgânicos, tem seis gatos, mora na Vila Madalena, vai trabalhar de bicicleta, sua bíblia é um manual de medicina ayurveda, mas que não dá bom dia para o porteiro e, se percebe que está atrasada para a aula de ioga, faz chilique no restaurante e destrata o garçom se o prato vegano que pediu está demorando para chegar.
2. As paquitas namastê e os zé droguinhas gratidão que se entopem de tudo, misturam tudo — ácido, ecstasy, MDma, vodca, haxixe — no festival de música eletrônica e, depois, mesmo sem se lembrar de nada, juram ter passado por uma “experiência mística”. Avaliam a humanidade e a personalidade de cada um levando em conta apenas um único critério, um critério absoluto: a astrologia.

3. O empreendedor — esse que é o novo santo contemporâneo — que leu o Monge e o Executivo e, como os antigos judeus ou os atuais evangélicos, acredita que bem-aventurança e glória divina provém de recompensas materiais, como conseguir subir de cargo no trabalho e consequentemente melhorar o salário, reformar o apartamento, comprar o carro do ano, financiar uma casa na praia etc. Mistura Espiritismo, cases de sucesso de empresários norte-americanos, física quântica e lei da atração e faz da sua espiritualidade um manual otimista e bem-sucedido.

Não me interprete mal; isso foi apenas uma abstração a título de comparação. Claro que não acredito que a ‘espiritualidade raiz’ dos monges e ascetas seja o único caminho real. Pelo contrário; não querendo descontextualizar a época nem ofender os gurus e santos de muitos, mas essas figuras místicas e loucas também tinham seu quê de pretensão exacerbada. E seus exemplos de renúncia ao mundo sempre me incomodou.

Minha intenção, aqui, é alertar sobre a discrepância da diferença de quem acreditou se espiritualizar milhares ou centenas de anos atrás e quem acredita se espiritualizar hoje em dia. Alertar, mais que tudo, que o caminho da espiritualidade, seja ele qual for, é a escolha mais árdua e corajosa que alguém pode tomar para si; que ela não é alcançada simplesmente pelo fato de fumar maconha, saber tudo sobre astrologia, se tornar vegetariano, ler dois livros do Sri Prem Baba, ir a Machu Picchu, participar de um ritual de Ayahuasca num final de semana com uma galera New Age cujo slogan é “o expandir da consciência” e, depois de tudo isso, ter a certeza de que se tornou “super energizado”.
Espiritualidade como marca — ou, para parecer engajado, espiritualidade como branded

A lógica de mercado atingiu até mesmo os temas, as práticas e os costumes mais caros à humanidade. Expandiu os setores e modelou personas ideais para tipos de consumo específicos.

O setor da espiritualidade é o expoente maior do esforço que o marketing e a publicidade fazem para não mais vender somente produtos aos seus consumidores, mas vender experiências. Fazem acreditar que, para se atingir a plenitude da consciência é necessário gastar dinheiro e pertencer a determinado nicho.

A lógica é: consumo gera felicidade; consumo de produtos e experiências ligadas à espiritualidade necessariamente te torna espiritualizado e feliz. Simples assim. Otimizado como nunca antes. Por fim, como se fosse possível comprar um kit espiritualidade/felicidade no shopping mais próximo de casa.

Esgarçamos, pulverizamos e relativizamos porque mercantilizamos o sentido da espiritualidade.

A dor da jornada espiritual é a dor do retiro



Nada contra às pessoas que se identificam com os perfis que citei há pouco — paquita namastê, zé droguinha gratidão, empreendedor. Homem do tempo em que vivo, vítima e ao mesmo tempo algoz de nossa época, também sou eu um dos exemplos. Portanto, não interprete uma possível arrogância (ou interprete); mas saiba: este texto também é uma autocrítica.

Me incomodo, sim, com a confusão de significados e identificações deturpadas. Me incomodo, principalmente, com a soberba e a ilusão.

Sobre associar o uso de drogas com jornada espiritual, gostaria de fazer um parêntese.

Digo por experiência: uma solidão profunda, rica em reflexões e avaliações sobre si mesmo e o mundo, solidão que vem acompanhada de uma contemplação sóbria da vida, é capaz de expandir a consciência muito mais que qualquer LSD. Drogas são apenas drogas. Podem ser divertidas, prazerosas, mas raramente irão te presentear com autoconhecimento, sabedoria, despertar de consciência, que seja, se, intrínseca e naturalmente, você não pressupor em si uma busca por conhecimento. Ou seja, se no seu estado normal você não toma o mundo com fascínio e curiosidade, não vai ser uma trip psicodélica que, como mágica, te concederá sabedoria e plenitude.

Igualmente difícil é crer que um “ser de luz” é aquele que não come carne, acende incenso toda manhã, faz ioga e compra um monte de quinquilharia importada do oriente.

Se as práticas não vêm acompanhadas de um sentido profundo, as práticas são somente máscaras.
Afinal, o que já deveria ser dito: no geral, todos esses exemplos carregam consigo uma falha, um desfalque em comum: para atingirem a própria iluminação, não querem pagar o preço principal que esse ofício demanda — o preço da dor. Pois, amigo, independente se você é um asceta, um New Age ou um Hare Krishna, a jornada espiritual, para qualquer época, sempre demandou e sempre vai demandar um profundo e necessário estado de dor. E dor, neste caso, é a dor do retiro, a dor da solidão, do isolamento em si mesmo.

Claro que não estou falando de um retiro, durante um feriado, num spa ou numa casa de repouso com workshop sobre espiritualidade incluso no pacote. Digo da necessidade de passar pelo crivo solitário que é o processo da descoberta de si — e isso, por si só, gera dor, pois significa rumar um caminho completamente desconhecido, negando toda e qualquer moral, abandonando todo princípio alheio e obedecendo, única e somente, à voz da própria alma. Se encontrar no mundo, criar um sentido original da vida e do próprio ser, necessariamente gera sofrimento, empenho, incomodo e crises durante a jornada. Enfrentar os próprios demônios, entender e aceitar as próprias contradições, alargar a alma para caber mais vida, dissolver o ego, assimilar a própria pequenez diante do universo — estes são alguns dos princípios básicos que eu considero como caminho para aquilo que podemos chamar de espiritualidade. Talvez, algo muito mais palpável e real do que acreditavam alguns monges; mas, com certeza, muitíssimo mais difícil e menos supérfluo do que entendem os espiritualizados de shopping — estes que, extraordinariamente, conseguem associar espiritualidade com alteração artificial de consciência e/ou exercícios e práticas específicas que os levam ao consumo de coisas e experiências.

O senhor

Conheci um senhor, com seus lá sessenta anos. Disse ter atravessado, na meia-idade, uma crise existencial que lhe custou oito anos de vida. Durante o longo período, viveu isolado numa pequena cidade do interior. Homem de grande espanto pelo mundo, foi buscar conhecimento esmiuçando obsessivamente a Bíblia, o Corão e os sagrados livros indianos. Leu, de cabo a rabo, toda a obra de Dostoiévski, Tolstoi e Nietzsche. Passou por experiências trágicas e se embrenhou na vida das pessoas pobres e simples.

Enfim, depois de quase uma década, quando sua consciência o alertou de que a longa jornada sabática tinha sido cumprida, só havia adquirido uma grande certeza — mesmo depois de ter ambicionado toda imersão para dentro de si e para dentro e fora do mundo (da matéria à metafísica), ele não necessariamente era mais sábio que sua avó, que nunca tinha saído da cidade onde nasceu e que morreu analfabeta. Disse, ainda, que o valor que levava consigo não era diferente, muito menos melhor, do que de qualquer outro ser.

Esse senhor levou oito anos para aprender o valor da humildade. Me garantiu que, desde então, esse era seu único tesouro. Sempre me repetia: “humildade, meu jovem, humildade! Humildade é o primeiro e último sinal de alguém evoluído. Sem ela, não se perde apenas a espiritualidade — se perde tudo.”


COMO SE TORNAR ULTRAESPIRITUAL:




FONTE:




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