Não morri não rs...é que tive muito trabalho e alguns contratempos essa semana, o que gerou todo esse atraso, ok? Dando continuidade aos posts das Terças, hoje iremos falar um pouco da história do príncipe
, aquele que despertou.
Pessoal, digo com toda convicção que é quase um "dever" sabermos de sua história, até mesmo por que, a partir dela iremos entender muitas das coisas desse longo caminho do auto conhecimento, da meditação e do yoga.
Bom, mas não vou falar mais não e vou deixar vocês tirarem suas próprias conclusões ao lerem mais um tópico dessa edição top da revista.
O REBELDE INTROSPECTIVO
Uma rigorosa rotina de meditação
transformou o príncipe Sidarta em BUDA,
dando origem a uma das quatro maiores religiões do mundo
A personalidade do filho tirava o sono do rei dos Sakyas. O
rajá Sudodana temia que o príncipe Sidarta Gautama fosse seduzido por outro
rumo que não a sucessão do trono. Por isso, proibiu o filho de deixar o
castelo. Um dia, porém, Sidarta descumpriu a ordem e foi até a cidade
acompanhado pelo amigo e fiel escudeiro Chandaka. Em Kapilavatsu, capital do
reino, localizada entre a Índia e o Nepal, ele se deparou com imagens chocantes
- os budistas as chamam de Os Quatro Sinais. Primeiro Sidarta viu um velho
corcunda, de pele encarquilhada, arrastando-se pela rua. Em seguida, ele encontrou
um homem doente, com o rosto crivado por úlceras. O terceiro sinal foi um
cortejo fúnebre, seguido por uma multidão chorosa.
As três cenas introduziram Sidarta, respectivamente, à
velhice, à doença e à morte - chagas inevitáveis da condição humana. Por fim,
no quarto sinal, o príncipe avistou um sadhu, espécie de monge mendicante,
pedindo comida. Apesar de maltrapilho, o indigente emanava tranquilidade e
possuía um raro brilho no olhar. Sidarta foi acometido por uma epifania.
Aquele homem não possuía casa, comida ou dinheiro e
ostentava um rosto tomado por um tipo de alegria que o príncipe não
identificava em ninguém à sua volta.
Da revelação, Sidarta depreendeu que o antídoto para as
vicissitudes dos seres não estava nos prazeres materiais, mas, sim, no desapego
aos desejos e sensações físicas. Foi quando o pesadelo do pai virou realidade.
O impacto daquela experiência fez Sidarta abdicar da realeza
e abraçar o caminho espiritual, partindo para a floresta onde os sadhus costumavam
viver. O príncipe despiu-se de suas vestes e as entregou a Chandaka,
pedindo-lhe que as devolvesse ao pai. Depois, raspou a cabeça e se cobriu com
uma túnica amarela, a indumentária característica dos monges eremitas da Índia
antiga. O herdeiro do trono dos Sakyas tinha 29 anos quando decidiu deixar para
trás a mulher, o filho recém - nascido e os luxos da corte para se tornar
peregrino na floresta de Kapilavatsu em busca de aprimoramento espiritual.
O rajá Sudodana sempre suspeitou que seu filho fosse
aprontar. Quando o príncipe nasceu, em 563 a.C., o vidente e astrólogo Asita
compareceu às festividades realizadas no palácio de Lumbini, no sul do Nepal.
Ao avistar o menino, Asita se comoveu: a criança teria a aura característica de
quem encarna com potencial para tornar-se um ser iluminado - buddha, em
sânscrito, a língua ancestral falada no sudeste da Ásia. O termo Buda não se
refere exatamente a um deus, mas a um estado de consciência. Quem atinge essa
condição superior compreende a verdadeira essência da vida - e, portanto pode
ensiná-la aos homens. Segundo algumas correntes dessa filosofia, os Budas surgem para ensinar
o dharma em sânscrito, algo como Lei ou
Ética Universa quando esse
conceito já parece esquecido.
Reza a lenda que Asita chorou porque havia
esperado desde sempre pelo aparecimento de alguém com essa
capacidade, mas não viveria o suficiente
para vé-lo em ação. O
velho místico, então, profetizou
dois destinos possíveis para o príncipe.
Se ficasse no palácio após a juventude,
Sidarta se transformaria num soberano perfeito e governaria o
mundo.
Mas, caso optasse pela senda espiritual, ele
viraria um homem santo e libertaria
a humanidade do sofrimento. A previsão era, ao mesmo tempo fantástica e perigosa para Sudodana. Ou
o filho colocaria o clã dos
Sakyas no comando do planeta ou
abdicaria do trono e sairia perambulando por aí. A
mente do monarca logo
maquinou as providências necessárias para que a primeira opção fosse a
única viável. Isso significava moldar o gosto do príncipe pela vida palaciana e, acima de
tudo, mantê-lo alheio à dor e às penúrias das pessoas comuns. Mesmo com todo o esforço de
Sudodana, Sidarta não ficou
imune aos desgostos da existência. A começar pela morte da mãe,
Mahamaya, uma semana após o seu nascimento. Quem o criou foi Mahaprajapati, irmã
mais nova de Maya e também esposa do
rei. Mas o pai fez o possível para afastar o filho do sofrimento
Os Sakyas possuíam três castelos, e Sidarta passou a maior parte da infância e da juventude dentro dessas fortalezas. Além disso, quando saía de lá, era apresentado a um mundo cenográfico. Antes das raras incursões públicas da família real, o rajá ordenava a retirada de velhos, mendigos e doentes das ruas. Tudo deveria ser limpo, festivo e perfeito aos olhos do príncipe. Mais tarde, a adolescência de Sidarta foi marcada por uma maratona de orgias, jogos e delícias mundanas. Ornamentado com peças de arte erótica, o quarto do garoto recebia uma romaria interminável de beldades arregimentadas pelo rei para entreter o filho. Aos 16 anos,Sidarta casou-se com sua prima, a bela Yasodhara, com quem teve seu único filho, Rahula.
MERGULHO NA FLORESTA Apesar dos inúmeros prazeres e facilidades, as escrituras budistas dizem que o príncipe era um jovem introspetivo. Vem daí a alcunha Sakyamuni - o sábio silencioso dos Sakyas -, uma das formas como Sidarta ficou conhecido. Por isso, a revelação espiritual do príncipe não foi uma surpresa.
Depois de enxergar Os Quatro Sinais, viver a epifania e fugir do palácio, Sidarta caminhou pelas florestas e adquiriu os hábitos dos gurus que viviam na periferia da capital. O principal deles era a meditação.
A NOBRE CARTILHA
DA ILUMINAÇÃO
INSPIRADO NOS
ENSINAMENTOS DO PRÍNCIPE INDIANO SIDARTA GAUTAMA (563A.C. - 483 A.C.), O BUDISMO É
UMA MESCLA DE RELIGIÃO E FILOSOFIA
DE VIDA QUE BUSCA
NOS LIBERTAR DO SOFRIMENTO HUMANO POR MEIO DA ELEVAÇÃO DA CONSCIÊNCIA.
E A MEDITAÇÃO TEM TUDO A VER COM ISSO
É aqui que a prática
e o praticante - no caso, Sidarta - passam a se confundir. O príncipe recebeu ensinamentos
de dois mestres iogues. Com eles, aprendeu que a meditação pretende pacificar
as turbulências da mente e, assim, permitir um ancoramento do ser num ponto
cada vez mais central e inabalável de seu interior, onde reside a sapiência completa
que o livrará da ignorância imunizará de qualquer influência externa. Por meio das
técnicas, alcançou avançados estágios de consciência - mas não chegou à iluminação.
Ainda lhe faltava ir mais longe e estabelecer domínio total dos sentidos.
|
TRONCO SAGRADO
A figueira onde Sidarta Gautama atingiu o estágio superior
de consciência passou a ser conhecida como árvore bodhi - ou árvore da
iluminação. Uma de suas mudas deu origem à árvore que hoje está plantada em
frente ao templo Mahabodhi, na cidade indiana de Bodhigaya - um dos principais
pontos de peregrinação dos budistas
|
Os ascetas,
místicos que optam pela abstenção dos prazeres físicos, pregam a automortificação
para conseguir isso. Além de meditarem de modo intermitente, eles se dedicam a prolongados
jejuns, a fim de purificar o corpo para facilitar a elevação da alma. Sidarta
uniu-se a um grupo de ascetas hindus e, com eles, permaneceu durante seis anos,
adotando uma dieta rígida - a ponto de comer a cada duas semanas e se alimentar
com apenas um grão de arroz por dia.
O resultado? Esquálido, Sidarta não conseguia
evoluir em suas práticas meditativas devido à inanição. No auge da fraqueza,
ele viu um barqueiro passando pelo rio Nairanjana.
O homem possuía um
alaúde em mãos e explicava a melhor maneira de afinar o instrumento:
"Se apertarmos
muito a corda, ela arrebentará. Se a afrouxarmos demais, ela não tocará".
Os estados mentais elevados, conferidos pela meditação, haviam despertado em
Sidarta um senso
de compreensão superior
sobre as coisas. Essa condição é éhamada de vipashyana e refere-se
aos insights advindos
do processo de introspecção (como veremos entre as páginas 40 e 41).
A frase do barqueiro
fez Sidarta identificar o seu erro. Na busca pela ascensão espiritual, o príncipe
fora de um extremo ao outro: saíra da opulência dos castelos para a completa
abstenção
de recursos, sem
éhegar aonde queria. A postura correta, ele percebeu, não estava nos opostos, mas
na moderação. É o que os budistas definem como o Caminho do Meio. Depois de
entender isso, Sidarta aceitou um pote de leite oferecido por uma menina e
abandonou os ascetas.
INTENSIVÃO Em
caminhada pelas margens do rio Nairanjana, no nordeste da Índia, o príncipe
peregrino avistou uma figueira e se recostou para meditar. Sentado sob a copa
da árvore, ele
prometia não se
mover até encontrar a Suprema Sabedoria - praj1'ia, em sânscrito. O conceito de
prajna não deriva dos conhecimentos adquiridos por alguém em livros nem se
refere a um exercício lógico ou racional. Esse é um saber que ultrapassa as
capacidades da mente comum e está ligado à Mente Universal - algo como o princípio
criador de tudo, a Alma Cósmica, a fonte primordial ou, vá lá, Deus. Quem compreende
prajna torna-se único com essa força geradora das coisas e conhece a verdade
fundamental da vida. A tradição budista éhama a isso de nirvana - uma condição
de máxima liberdade, na qual os sofrimentos (dukkha) se extinguem, e o adepto atinge
a iluminação. Por isso, prajnaé considerada a mãe de todos os Budas.
Aos 35 anos, ele
ainda não havia alcançado tal nível, mas carregava em seu íntimo a ânsia incontida
de obtê-Io. A origem dessa persistência continha a principal coordenada para
que ele chegasse lá. Assim, cruzou as pernas em posição de lótus, fechou os
olhos e iniciou uma
viagem silenciosa
com destino às profundezas de si mesmo. O ano era 528 a.C.
Na mitologia do
Sudeste Asiático, há um inimigo ferrenho de todo o candidato à iluminação: Mara
Devaputra, o demônio que governa o reino das ilusões. Para chegar à sabedoria
plena é necessário abandonar os territórios de Mara, mas esse demônio não
costuma nos deixar escalar os seus muros com facilidade. Durante os 49 dias em
que ficou meditando no tronco da árvore - algumas fontes falam em sete dias e
sete noites -, Sidarta Gautama travou uma árdua batalha com os enviados de
Mara. Esse exército é formado por medos, tentações, dúvidas, cobiças, ignorância,
entre outras imperfeições.
A rigor, Mara é
parecido com o conceito de Ego, descrito pelo psicanalista Sigmund Freud como a
parte consciente da mente. Para os budistas, o apego à personalidade e ao conceito
de Eu senhor e escravo da mente, pavimenta o sofrimento humano e leva uma alma
a criar os karmas (ações) que a mantêm presa à Roda de Samsara (ciclo de
reencarnações)
até serem expiados
por completo. Ao mergulhar rumo ao cerne da consciência, por meio da
meditação e de uma
conduta de vida correta, o praticante pode reconhecer o seu eu imutável - a tal
Mente Suprema - e aprender a lidar com os truques de sua identidade impermanente
e superficial. Em maio de 528 a.C., numa noite de lua Cheia, Sidarta Gautama
conseguiu isso.
O DESPERTO Algumas
fontes dizem que, ao transcender a própria mente, Sidarta atingiu um estado de onisciência,
compreendendo todas as tramas que sustentam a existência humana. Ele também
teria descoberto as suas encarnações anteriores e se reconhecido como a continuação
de uma linhagem de iluminados.
A partir de então,
Sidarta passou a se apresentar como Buda - O Desperto - e iniciou sua senda de
ensinamentos.
Ele não foi o primeiro.
Mesmo antes de existir uma religião budista, outros Budas cruzaram a Terra - as
versões variam de seis a 1002, mas a origem e as identidades deles se perderam
no tempo. Ao contrário dos outros, Sidarta teve o talento para cravar seu nome
da história.
Nos 45 anos
seguintes, o Buda Gautama dedicou -se a disseminar uma filosofia que contrastava
com as religiões vigentes na sociedade hinduísta, cujos saberes espirituais
cabiam apenas à casta dos sacerdotes (brâmanes) - um conceito ainda hoje em
voga na Índia, embora o sistema
de divisões tenha sido
oficialmente abolido pelo país em 1950. Ele pregou uma humildade espantosa: foi
o único líder espiritual das grandes religiões que se dizia um homem 100% comum.
Alcançou a sabedoria apenas por esforço pessoal, e não porque tivesse
superpoderes, como cacife para falar com Deus. Aos 80 anos, morreu vítima de
uma disenteria, em Kushinagar, no NepaI. "Que cada um seja uma lâmpada de
si mesmo" , disse Sidarta antes de falecer.
A frase resume um
dos principais ensinamentos do budismo, a quarta maior religião do mundo, com
500 milhões de adeptos: E essa luz interna começa a se acender justamente
quando
fechamos os olhos
e respiramos fundo.