COLOQUE-SE EM UMA POSIÇÃO CONFORTÁVEL
Você não precisa ficar em posição de lótus. Pode se ajoelhar
numa almofada, sentar em uma poltrona ou até mesmo deitar - o que for mais aconchegante.
Mais importante do que a postura é montar um cenário que tenha poucas
distrações. Se a posição de lótus provocar formigamento nas pernas ou dor na
lombar, isso vai roubar o foco - e, portanto, não serve. Ficou confortável?
RESPIRE FUNDO E FECHE OS OLHOS
Todas as meditações
começam com instruções semelhantes. Inspire e expire devagar, prestando atenção
nos movimentos do peito e da barriga. Mas por que a respiração? Por que
meditadores não usam pêndulos como os hipnotizadores? O vai e vem do peito se mostrou
como o melhor método para desacelerar a mente porque esta sempre com você. Ou
seja, você
pode se
concentrar na respiração em qualquer hora e local. Se a meditação depender de
um objeto, como um pêndulo, de que modo poderíamos praticá-la quando estamos
longe dele?
Respirar tem
outras vantagens. É invisível. Você percebe o movimento mesmo de olhos
fechados. Assim, pode reduzir as distrações que vêm com a visão.
E,
diferentemente das batidas do coração, que são 100% automáticas, a respiração é
controlável. Você pode regular a velocidade do ar que entra e sai. Aos poucos,
cadenciando a inspiração, o corpo relaxa.
MAS ESSE CONTROLE É FINITO: SUA MENTE VAI DEVANEAR
Aqui está o maior mito da
meditação.
Apagar os pensamentos é impossível.
"Relaxar, é claro que podemos. Mas esvaziar a mente? Não sei por quanto
tempo você pode fazer isso", disse o monge francês Matthieu Ricard, em uma
palestra no campus do Google em 2015. Entre uma respiração e outra, o
pensamento foge, talvez para um lugar bem mundano, como a lista de compras do
supermercado. Ou para algum problema no trabalho. Tudo normal e esperado.
Para o budismo, a mente é como um
macaco doido. Ela não para: vive pulando de galho em galho (ou de pensamento em
pensamento), e essa galeria infinita de desejos, sentimentos e frustrações nos deixa
ansiosos, angustiados ou tristes. Buda passou 40 anos ensinando como evitar a
dispersão mental, que está na base do sofrimento humano e das doenças. Ele defendia
a meditação como um método para treinar o macaco.
No momento que você percebe que sua
mente começou a voar, traga a de volta à respiração, de volta ao momento presente.
Não julgue seus pensamentos, mesmo que sejam perversos, perturbadores ou ridículos,
e não tente soterrá-los para que não voltem mais (um dos ensinamentos mais
difíceis da meditação). É importante reconhecer as suas reflexões, mas deixe-as
ir embora, como um passarinho que passa na paisagem.
Traga a mente de volta para a
respiração e para as sensações do corpo.
A posição está confortável? Em
que posição estão suas mãos? Que sons você está ouvindo? Perceba cada um. Isso é
mindfulness, cuja tradução em português costuma ser "atenção plena",
no aqui e agora. É uma técnica presente em muitas meditações budistas e hindus.
VOCÊ JÁ COMEÇOU A MEDITAR?
A partir de agora, encare a
prática como um treinamento. Você precisa ter disciplina para manter a
regularidade e domar o macaco sempre que ele estiver inquieto. Seja gentil: na
analogia budista, em vez de dar uma dura no animal, ofereça algo para ele
comer. Ou seja, proponha um foco para a mente, como a respiração ou os sons ao
redor ou o tato da sua mão sobre a perna. É tentador fechar o olho, relaxar e
apenas observar a mente pulando de galho em galho. Mas isso não é meditação.
Sempre que o macaco escapar, volte à respiração lentamente, sem julgamentos.NO BUDISMO, A MENTE É VISTA COMO UM MACACO DOIDO, E A MEDITAÇÃO SERIA A FERRAMENTA MAIS EFICIÊNTE PARA DOMÁ-LO
SE PREFERIR, ENTOE UM MANTRA
Um mantra nada mais é do que um
foco, como a respiração, para controlar a mente. Se inspirar e
expirar não é suficiente para você domar o macaco, procure algo que tenha um significado: pode ser uma prece, um verso, palavras em sânscrito que representem algo que você busca, um tema de reflexão, um desejo ou intenção. Na meditação da compaixão (leia mais na página 38), por exemplo, você direciona seu pensamento para uma pessoa ou um grupo e entoa uma frase que resuma o que você deseja que eles se recuperem de alguma doença, problema ou infortúnio. No mantra, você tem a tarefa de repetir várias vezes as mesmas palavras e isso faz sua mente concentrar as energias em uma só direção, num único foco.
expirar não é suficiente para você domar o macaco, procure algo que tenha um significado: pode ser uma prece, um verso, palavras em sânscrito que representem algo que você busca, um tema de reflexão, um desejo ou intenção. Na meditação da compaixão (leia mais na página 38), por exemplo, você direciona seu pensamento para uma pessoa ou um grupo e entoa uma frase que resuma o que você deseja que eles se recuperem de alguma doença, problema ou infortúnio. No mantra, você tem a tarefa de repetir várias vezes as mesmas palavras e isso faz sua mente concentrar as energias em uma só direção, num único foco.
Um dos gurus da meditação, Osho (leia
mais na página 54) indicava entoar mantras em voz alta para chamar a atenção da
mente na base do grito mesmo. Outra opção é usar sons ou as sensações corporais
como foco - nesse caso é ideal meditar com orientação de um aplicativo ou
instrutor para que você não se perca em devaneios.
MANTENHA A ATENÇÃO PLENA NO PRESENTE
Meditar é situar-se no aqui e
agora.
A respiração, os mantras, os sons
ou as sensações corporais são apenas um artifício para você ficar com sua mente
o maior tempo possível no único tempo que existe, o presente. Quando ela voar para
as preocupações do futuro ou voltar às ruminações do passado, volte ao foco
escolhido e ao presente. A ideia
é que, com a prática e a experiência, você tenha consciência plena no que está
acontecendo no momento. Esse é um dos objetivos das práticas meditativas
budistas: incorporar seus princípios, como foco e calma, no cotidiano para que você
assuma as rédeas da sua mente e não seja mais escravo das elucubrações. Até
mesmo diante de uma tarefa banal, como uma pia cheia de louça suja. "As
tarefas domésticas são as que mais exigem isso. Quando a gente vê a louça suja,
sente um impacto imediato. Mas, em vez de lutar contra
ela ou ignorar, você começa a
enfrentar a tarefa prato por prato, sem se apavorar" , ensina o Lama Padma
Samten, diretor do Centro de Estudos Budistas Bodisatva, em Viamão, região
metropolitana de Porto Alegre. No zen-budísmo, existe uma máxima: "Quando
você lava' lava; quando seca, seca; quando varre, varre. "Fique no
presente o máximo que você puder, mesmo diante de tarefas repetitivas e
tediosas.
MEDITE DE NOVO E DE NOVO
Mantenha uma certa regularidade.
Lembre-se de que a meditação é um treino que exige esforço e persistência. Com
a prática, vá aumentando o tempo e variando os tipos para ir treinando a mente
de diferentes formas. Recorra a grupos de meditação ou a instrutores capacitados
para facilitar a incorporação do hábito na rotina. Sem auxílio, talvez você caia
no sono ou se perca em devaneios.
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