AMOR VS EGOÍSMO
Qual é o primeiro
passo que cada um devia dar para poder amar?
Para amar é necessário sentir-se a si mesmo e, para se
sentir a si mesmo, é necessário conhecer-se a si mesmo. Se queres amar os
outros, aprende primeiro a amar-te a ti mesmo, através de te conheceres a ti
mesmo. Quem não se quer a si mesmo não pode querer aos outros.
Mas eu tinha
entendido que para amar os outros tens de renunciar a ti mesmo!
Nem pensar. O que tens de fazer é renunciar ao teu egoísmo,
mas não aos teus sentimentos. O que acontece é que tens um conceito do que é o
amor que é incorreto, porque misturais o amor com o egoísmo. Amar-se a si mesmo
não é julgar-se melhor que os outros e, por isso, dedicar-se a satisfazer
caprichos egoístas, mas antes reconhecer as necessidades afetivas próprias, os
sentimentos, e desenvolvê-los para que sejam o motor da sua vida. Por isso
disse que para amar verdadeiramente é tão importante conhecer-se a si próprio.
Conhecer-se implica saber distinguir entre o que sentimos e o que pensamos,
reconhecer entre o que vem do nosso sentimento e o que vem do nosso egoísmo.
Então, como
distinguir o que é o amor do que o que, não é?
O amor na sua expressão máxima tem de ser incondicional.
Quem ama verdadeiramente não espera nada em troca e quem age por interesse não
está a amar verdadeiramente. O amor tem de ser livre, senão, não é amor. Não se
pode forçar ninguém a amar.
Quem quiser amar tem de querer também renunciar ao egoísmo.
O amor e o egoísmo são conceitos contrários, incompatíveis entre si,
antagónicos. Não se pode amar sem renunciar ao egoísmo, já que o egoísmo é, na
realidade, a ausência de amor. Aprender a amar é o mesmo que aprender a
desprender-se do egoísmo. Quem aumenta a sua capacidade de amar diminui o seu
egoísmo e vice-versa.
E como aprende o
espírito a amar?
É um processo contínuo que requer muitíssimo tempo de
evolução. O espírito começa-o antes de iniciar a fase humana e não o termina
nunca, já que há sempre algo novo para aprender a respeito do amor. Como
aprender a falar, não há outra forma de desenvolver o amor que não seja através
da interação constante com outros seres. Nas primeiras etapas, quando o ser
espiritual está escassamente desenvolvido, experimenta o amor que outros seres
mais avançados sentem em relação a ele na forma de emoções. Isso provoca-lhe
bem-estar. Também tem de experimentar o que é a ausência de amor, quer dizer, o
egoísmo de outros seres que, da mesma forma que ele, ainda não são capazes de
amar. Isso far-lhe-á sentir emoções de mal-estar, mas também lhe permitirá
reconhecer, aprender a distinguir melhor entre a ausência e a presença de amor
e a valorizar a presença de amor, o que servirá de estímulo para poder desenvolver
em si mesmo os sentimentos. Ou seja, antes de ser capaz de amar, o ser
espiritual sensibiliza-se como receptor do amor de outros seres mais avançados, que lhe servem
de exemplo do que é ser emissor de amor. Também terá de conviver com outros
seres com egoísmo igual ou mais acentuado do que ele mesmo, que servem de
exemplo do que é a ausência de amor. Todas estas interações lhe motivarão o
desenvolvimento, primeiro, das emoções e, mais tarde, dos sentimentos.
Uma vez que o espírito reconheça o amor que recebeu dos
outros, nessa altura já está preparado para ser um emissor de amor. Serão os
seres que o amaram, os primeiros em relação aos quais vão despertar os
primeiros sentimentos de afeto (usualmente em relação a algum membro da sua
família), enquanto os restantes seres, os que se comportaram com egoísmo em
relação a ele, serão inimigos, e os que nunca tiveram relação com ele,
simplesmente serão seres pelos quais sentirá indiferença. Nesta etapa, o
espírito é apaixonado nos amores, vingativo e rancoroso nos desamores. Chegará
outra etapa mais avançada em que o ser já não quererá prejudicar os que lhe
provocaram dano, porque se dá conta de que o sofrimento em si mesmo é algo
negativo, incompatível com o amor, e abandonará a vingança como forma de ressarcimento
pelo dano recebido. A esta etapa poderíamos denominar amor condicional
avançado. Chegado certo momento, quando o grau de compreensão e de
sensibilidade do ser tenha aumentado consideravelmente, está preparado para dar
o grande salto, o de querer a todos os demais seres da criação, incluindo
àqueles que o odiaram e o rebaixaram e o fizeram sofrer o indescritível. Quer
dizer que entrou na etapa final, em que se alcança o amor incondicional, aquele
amor que anunciavam os seres avançados como Jesus quando diziam “ama o teu
inimigo”. Com certeza, isso não acontece da noite para o dia. Serão necessários
milhões de anos de evolução para percorrer o caminho da primeira à última
etapa.
Poderias resumir
essas etapas para que eu tenha uma ideia?
Sim, ainda que, como digo, o processo seja contínuo,
poderíamos dividi-lo, para sua melhor compreensão, nas seguintes etapas:
1- Insensível
como receptor e emissor de amor;
2- Parcialmente
sensível como receptor de amor – insensível como emissor de amor;
3- Sensível
como receptor – parcialmente sensível como emissor (amor condicional);
4- Altamente
sensível como receptor – altamente sensível como emissor (amor condicional
avançado);
5- Totalmente
sensível como receptor – totalmente sensível como emissor (amor incondicional);
Qual é o origem das
emoções e dos sentimentos e em que se diferenciam?
Nos primeiros estádios de evolução do ser espiritual, este
só é capaz de sentir emoções que, geralmente, são apenas uma resposta a um
estímulo de natureza exterior. Este desenvolvimento da percepção emocional
começa logo em etapas anteriores à humana. De facto podeis observar que muitos
mamíferos superiores, como cães, vacas, cavalos ou golfinhos, já são capazes de
perceber e manifestar emoções bastante profundas de muito diversos tipos. À
medida que o espírito experimenta com as emoções e começa a tê-las em conta
para tomar decisões, está a começar a desenvolver o sentimento. Podeis
considerar que os sentimentos são a forma evoluída das emoções.
Podes expor com mais profundidade a distinção e a relação
entre as emoções e os sentimentos?
As emoções são de duração curta, geralmente são ativadas por
algum tipo de estímulo, exterior ou interior. Os sentimentos têm uma duração
mais extensa, estão mais profundamente enraizados no espírito e ainda que
recebam a influência do exterior, não têm de ser motivados por nenhum impulso
exterior, mas antes pela própria vontade do espírito. Os sentimentos e as
emoções estão intimamente ligados. O sentimento é capaz de despertar as
emoções. É como a fonte interna de que emanam, de maneira que, neste aspecto,
as emoções são uma manifestação dos sentimentos. Também as emoções, sobretudo
as percebidas do exterior, influem nos sentimentos e podem ser um estímulo para
os ativar ou para os reprimir. No máximo desenvolvimento do sentimento de amor,
ou seja, quando se chega a experimentar o sentimento de amor incondicional,
encontramo-nos já perante um sentimento que não vai terminar nunca e que, além
disso, não necessita de nenhum estímulo exterior para que seja despertado ou
alimentado.
Em que parte do ser
se originam as emoções e os sentimentos?
As emoções e os sentimentos de amor originam-se no corpo
espiritual. As ego-emoções e os ego-sentimentos, ainda que sejam percebidos no
corpo espiritual, desenvolvem o seu carácter egoísta no corpo mental.
Não entendo o que
queres dizer. O que são os ego-sentimentos e as ego-emoções?
São os sentimentos e emoções negativas gerados por atitudes
egoístas. Na realidade, as atitudes egoístas são pensamentos e, portanto,
originam-se na mente.
Então o sentimento e
o pensamento têm uma origem distinta? Sempre julguei que ambos eram fruto da
mente.
Pois, não têm a mesma origem. O sentimento procede do
espírito (corpo espiritual) e o pensamento, da mente (corpo mental).
Deixa ver se
compreendi bem. Queres dizer então, que o egoísmo se origina na mente e o amor
no espírito?
Sim. Ainda que como já disse as ego-emoções e os
ego-sentimentos se percebam também no corpo espiritual, o seu aspecto egoísta é
gerado na mente.
Poderias
esclarecer-me este ponto? Continuo sem entender como pode ser que o egoísmo se
origine na mente e que os sentimentos ou emoções egoístas se sintam no
espírito.
Claro. Imagina que uma pessoa se encontra com uma lanterna
acesa dentro de uma cúpula de cristal. Se o cristal é transparente, tanto a luz
que sai da lanterna para o exterior como a luz que entra do exterior no
interior, não sofrerá praticamente nenhuma modificação pelo facto de passar
através do cristal. Contudo, se o cristal da cúpula, em vez de ser
transparente, for opaco, então modificará a passagem da luz através dela, tanto
da luz que sai do interior para o exterior como da que entra do exterior no interior
da cúpula. A pessoa com a lanterna representa o corpo espiritual e a cúpula de
cristal representa o corpo mental. A opacidade do cristal da cúpula representa
o egoísmo. O egoísmo modificará tanto a percepção dos sentimentos e emoções dos
outros (a luz que entra), transformando-os antes de impressionarem o corpo
espiritual, como a expressão ou manifestação dos sentimentos e emoções que
procedem do corpo espiritual (a luz que sai), que serão percebidos pelos outros
já com o matiz egoísta de que se impregnaram ao passar pela mente.
Ver Mais:
Não deixe de acompanhar as outras partes já postadas:
Beijos no coração,
Namastê
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