Por Pedro Kupfer
Algumas pessoas pensam que é preciso viver todos os prazeres
possíveis antes de dedicar-se à espiritualidade. Essa é uma crença bastante
espalhada e comum. Isso acontece porque algumas pessoas que começam essa
caminhada acabam fazendo exatamente o contrário do que pregam: deixam-se levar
pelas paixões exacerbadas quando supostamente deveriam ser contidos, acumulam
imensas fortunas quando deveriam cultivar a simplicidade e coisas do gênero.
Daí, com algum direito as pessoas pensam: “ele fez isso
porque não viveu o suficiente número de experiências mundanas antes de
dedicar-se à espiritualidade”. Porém, essa ideia é uma falácia. Parece verdade
mas não é. Na medida em que realizamos ações, criamos novas condições para
fazer outras novas no futuro próximo. O apego às memórias passadas nos prende
nos condicionamentos. O nosso karma pode ser prazeroso ou doloroso. Mas nós
mesmos é que escolhemos, em todo caso, o que fazemos com ele.
É preciso discernir as coisas: em primeiro lugar, há uma
situação kármica, que pode ser prazerosa, dolorosa ou uma combinação de ambas.
Porém, sempre podemos escolher se e como, a partir desse setup, vamos continuar
alimentando esse círculo ou não. A ignorância existencial é a coisa mais
medonha. Mas não precisamos tornar-nos vítimas dela.
Qualquer um pode cair. Qualquer um pode se deixar arrastar
pelas fraquezas. Porém, se mantivermos um coração limpo e clareza nos nossos
propósitos e intenções, nada poderá nos demover do nosso objetivo. O primeiro
passo é fazer as pazes com o próprio karma. Não se sentir culpado nem
vitimizado por ele. Depois, é necessário considerar a importância da renúncia.
Renúncia, no sentido de suavizar a ideia de que precisamos viver para
satisfazer os sentidos.
Depois, é recomendável desenvolver curiosidade, foco e
motivação para compreender o que é melhor para nós e agir em consequência: se
vamos vezes e mais vezes nos deixar arrastar pela ânsia de satisfazer os
desejos e as experiências sensoriais, ou ainda, se nos mantemos dispostos a
crescer através de e para além deles. Noutras palavras, nos manter focados em
cultivar bons hábitos, saudáveis e construtivos. Colocar as prioridades em
primeiro lugar, em suma.
Somos ao mesmo tempo vítimas da identificação com o corpo e
do nosso desleixo em relação a ele. É por isso que acreditamos que seja
necessário priorizar as coisas. Não nos deixemos levar pelo apego. Não vivamos
focados unicamente no prazer sensorial. Isso é perder o tempo. Afinal, viver
para satisfazer os sentidos acaba sendo uma autopunição que pagamos muito caro
nas diversas formas do sofrimento e da aflição.
Namaste!
Artigo retirado do site:
http://www.yoga.pro.br/artigos/1233/3023/devemos-provar-tudo-antes-do-yoga
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