Oi gente!
Hoje iremos fazer uma reflexão sobre o Ego Espiritual. Isso
veio depois do artigo abaixo que li semana passada.
Acho bem interessante
vocês darem uma lida também, segue o link:
Vamos sair da superficialidade dos julgamentos e finalmente
olhar os fatos sobre uma outra perspectiva pq. só assim estaremos indo na
direção do despertar.
Beijos no coração,
Namastê
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Acho importante primeiro vocês lerem esse artigo para depois assistirem o vídeo, ok?
Alienados Espiritualistas
Fuma
maconha, sabe tudo de astrologia, se torna vegetariano, lê dois livros do Sri
Prem Baba, vai a Machu Picchu, participa de um ritual de Ayahuasca num final de
semana e tem certeza de que é “super energizado”
Cada vez mais tenho conhecido pessoas que se dizem
espiritualizadas. Não são adeptas a nenhuma religião, seu conceito de Deus é
bem abstrato — isso quando não se julgam ateias — e sua espiritualidade, grosso
modo, é adquirida e exercida através de hábitos e comportamentos estritamente
ligados ao consumo e à adesão a algum grupo.
A maioria se considera muito mais do que realmente é, se
colocando numa posição acima que os demais, meros mortais, e carregam muito
mais certezas do que dúvidas. Pegam um pouco dos conceitos básicos das
principais religiões orientais aqui, sintetizam os ensinamentos de alguns
profetas e gurus ali, compilam algumas mensagens de filosofia prática e de
autoajuda acolá, e, nessa miscelânea de ideias, formam sua própria
espiritualidade; por fim, concluem: tudo é energia.
Seria esse fenômeno a ressaca eminente das filosofias dos
movimentos da contracultura de cinquenta anos atrás que ainda sentimos bater
nas costas? Não sei dizer. E também não quero pagar de chato da semântica e da
etimologia que vai propor dissecar o significado real da palavra
espiritualidade para depois tecer críticas sobre nossa atual concepção.
Quero ser simples e pontual: neste louco início de século,
arrisco dizer que o significado de espiritualidade nunca foi tão deturpado em
relação a qualquer outra época. Não apenas deturpado, mas da mesma forma que
fizemos com qualquer valor moral de outrora, com a espiritualidade não foi diferente:
seu sentido foi esgarçado, pulverizado, relativizado e, principalmente,
mercantilizado. Sobre tais mudanças, falo já. Antes, me deixa continuar com
mais algumas críticas e insultos aos espiritualizados pós-modernos.
Vamos imaginar um caso. Uma pessoa que se diz
espiritualizada e uma outra que se vê como problemática, desorientada,
perturbada ou que então não se diz nada. Se fosse para escolher uma delas como
amiga, provavelmente eu preferiria o segundo exemplo. Pois, repito: se alguns
se dizem despertos, super conscientizados e se sentem elevados e energizados,
prefiro considera-los, quase em todo caso, como presunçosos, vaidosos,
imodestos. Vou ainda mais além: os problemáticos, os desorientados, os
perturbados, estão mais próximos de Deus dos que aqueles que têm a certeza de
serem “seres evoluídos”. Provável que evoluído seja só o tamanho do orgulho e
da presunção do cidadão. Transcendência, no caso dessa galera, é a
transcendência da pretensão. Pois o evoluído (pela primeira e única vez sem
aspas neste texto), para mim, muito antes de se considerar santo, se vê, mais
que tudo, como humano, demasiadamente falho e igual a todo o resto.
Pelo pouco que sei da história dos profetas, dos santos e
das religiões, a coisa nunca fugiu muito do padrão: atingir a espiritualidade
demandava um processo contínuo e árduo, sempre passando por uma longa e difícil
jornada de autoconhecimento da qual, muitas vezes, só era possível através do
isolamento e da renúncia ao mundo.
A penitência dos monges que se isolavam no deserto durante
anos, décadas, às vezes toda a vida, para enfrentar seus próprios demônios e ir
em busca da purificação e da realização dos desígnios sagrados.
Ascetas que
praticavam mortificações e seguiam dietas rigorosas à base de água e algumas
folhas por dia. Faquires que viviam na mendicância e se autoflagelavam, em
alguns casos ateando fogo no próprio corpo, com o propósito de atingir a
perfeição espiritual e provar o triunfo da alma. Iogues obstinados que, por
meio de rigorosa disciplina, transformaram a própria estrutura física depois de
forçar posições sobre-humanas para dar continuidade à busca do alcance de um
despertar maior da consciência.
E, agora que descrevi alguns ‘espiritualistas raiz’, vamos,
a título de comparação, caricaturar os ‘espiritualizados nutella’ da nossa
geração.
1. A madame de floral que só come orgânicos, tem seis gatos,
mora na Vila Madalena, vai trabalhar de bicicleta, sua bíblia é um manual de
medicina ayurveda, mas que não dá bom dia para o porteiro e, se percebe que
está atrasada para a aula de ioga, faz chilique no restaurante e destrata o
garçom se o prato vegano que pediu está demorando para chegar.
2. As paquitas namastê e os zé droguinhas gratidão que se
entopem de tudo, misturam tudo — ácido, ecstasy, MDma, vodca, haxixe — no
festival de música eletrônica e, depois, mesmo sem se lembrar de nada, juram
ter passado por uma “experiência mística”. Avaliam a humanidade e a
personalidade de cada um levando em conta apenas um único critério, um critério
absoluto: a astrologia.
3. O empreendedor — esse que é o novo santo
contemporâneo — que leu o Monge e o Executivo e, como os antigos judeus ou os
atuais evangélicos, acredita que bem-aventurança e glória divina provém de
recompensas materiais, como conseguir subir de cargo no trabalho e
consequentemente melhorar o salário, reformar o apartamento, comprar o carro do
ano, financiar uma casa na praia etc. Mistura Espiritismo, cases de sucesso de
empresários norte-americanos, física quântica e lei da atração e faz da sua
espiritualidade um manual otimista e bem-sucedido.
Não me interprete mal; isso foi apenas uma abstração a
título de comparação. Claro que não acredito que a ‘espiritualidade raiz’ dos
monges e ascetas seja o único caminho real. Pelo contrário; não querendo
descontextualizar a época nem ofender os gurus e santos de muitos, mas essas
figuras místicas e loucas também tinham seu quê de pretensão exacerbada. E seus
exemplos de renúncia ao mundo sempre me incomodou.
Minha intenção, aqui, é alertar sobre a discrepância da
diferença de quem acreditou se espiritualizar milhares ou centenas de anos
atrás e quem acredita se espiritualizar hoje em dia. Alertar, mais que tudo,
que o caminho da espiritualidade, seja ele qual for, é a escolha mais árdua e
corajosa que alguém pode tomar para si; que ela não é alcançada simplesmente
pelo fato de fumar maconha, saber tudo sobre astrologia, se tornar vegetariano,
ler dois livros do Sri Prem Baba, ir a Machu Picchu, participar de um ritual de
Ayahuasca num final de semana com uma galera New Age cujo slogan é “o expandir
da consciência” e, depois de tudo isso, ter a certeza de que se tornou “super
energizado”.
Espiritualidade como marca — ou, para parecer engajado,
espiritualidade como branded
A lógica de mercado atingiu até mesmo os temas, as práticas
e os costumes mais caros à humanidade. Expandiu os setores e modelou personas
ideais para tipos de consumo específicos.
O setor da espiritualidade é o expoente maior do esforço que
o marketing e a publicidade fazem para não mais vender somente produtos aos
seus consumidores, mas vender experiências. Fazem acreditar que, para se
atingir a plenitude da consciência é necessário gastar dinheiro e pertencer a
determinado nicho.
Esgarçamos, pulverizamos e relativizamos porque
mercantilizamos o sentido da espiritualidade.
A dor da
jornada espiritual é a dor do retiro
Nada contra às pessoas que se identificam com os perfis que
citei há pouco — paquita namastê, zé droguinha gratidão, empreendedor. Homem do
tempo em que vivo, vítima e ao mesmo tempo algoz de nossa época, também sou eu
um dos exemplos. Portanto, não interprete uma possível arrogância (ou
interprete); mas saiba: este texto também é uma autocrítica.
Me incomodo, sim, com a confusão de significados e
identificações deturpadas. Me incomodo, principalmente, com a soberba e a
ilusão.
Sobre associar o uso de drogas com jornada espiritual, gostaria
de fazer um parêntese.
Digo por experiência: uma solidão profunda, rica em
reflexões e avaliações sobre si mesmo e o mundo, solidão que vem acompanhada de
uma contemplação sóbria da vida, é capaz de expandir a consciência muito mais
que qualquer LSD. Drogas são apenas drogas. Podem ser divertidas, prazerosas,
mas raramente irão te presentear com autoconhecimento, sabedoria, despertar de
consciência, que seja, se, intrínseca e naturalmente, você não pressupor em si
uma busca por conhecimento. Ou seja, se no seu estado normal você não toma o
mundo com fascínio e curiosidade, não vai ser uma trip psicodélica que, como
mágica, te concederá sabedoria e plenitude.
Igualmente difícil é crer que um “ser de luz” é aquele que
não come carne, acende incenso toda manhã, faz ioga e compra um monte de
quinquilharia importada do oriente.
Se as práticas não vêm acompanhadas de um sentido profundo,
as práticas são somente máscaras.
Afinal, o que já deveria ser dito: no geral, todos esses
exemplos carregam consigo uma falha, um desfalque em comum: para atingirem a
própria iluminação, não querem pagar o preço principal que esse ofício
demanda — o preço da dor. Pois, amigo, independente se você é um asceta, um New
Age ou um Hare Krishna, a jornada espiritual, para qualquer época, sempre
demandou e sempre vai demandar um profundo e necessário estado de dor. E dor,
neste caso, é a dor do retiro, a dor da solidão, do isolamento em si mesmo.
Conheci um senhor, com seus lá sessenta anos. Disse ter
atravessado, na meia-idade, uma crise existencial que lhe custou oito anos de
vida. Durante o longo período, viveu isolado numa pequena cidade do interior.
Homem de grande espanto pelo mundo, foi buscar conhecimento esmiuçando
obsessivamente a Bíblia, o Corão e os sagrados livros indianos. Leu, de cabo a
rabo, toda a obra de Dostoiévski, Tolstoi e Nietzsche. Passou por experiências
trágicas e se embrenhou na vida das pessoas pobres e simples.
Enfim, depois de quase uma década, quando sua consciência o
alertou de que a longa jornada sabática tinha sido cumprida, só havia adquirido
uma grande certeza — mesmo depois de ter ambicionado toda imersão para dentro
de si e para dentro e fora do mundo (da matéria à metafísica), ele não
necessariamente era mais sábio que sua avó, que nunca tinha saído da cidade
onde nasceu e que morreu analfabeta. Disse, ainda, que o valor que levava
consigo não era diferente, muito menos melhor, do que de qualquer outro ser.
Esse senhor levou oito anos para aprender o valor da
humildade. Me garantiu que, desde então, esse era seu único tesouro. Sempre me
repetia: “humildade, meu jovem, humildade! Humildade é o primeiro e último
sinal de alguém evoluído. Sem ela, não se perde apenas a espiritualidade — se
perde tudo.”
COMO SE TORNAR
ULTRAESPIRITUAL:
FONTE: